28 agosto 2010
Governo de Juscelino Kubistschek
Com o suicídio de Getúlio Vargas, em 24 de Agosto de 1954, abriu-se um buraco no poder e também na herança política, perseguida por seus simpatizantes e adversários. Para substituí-lo tentaram lançar uma candidatura de “união nacional”, com a adesão de dois dos maiores partidos políticos da época: o Partido Social Democrático (PSD) e a União Democrática Nacional (UDN). Eles teriam um candidato único, que uniria a direita e o centro e evitaria uma nova candidatura radical como era a “getulista”.Esta idéia, porém, não se concretizou e, em 10 de Fevereiro de 1955, o PSD homologou o nome de Juscelino Kubitschek como candidato à presidência da República.
JK sabia que precisava do apoio de uma base sólida e da aceitação popular, como tinha o PTB, partido de Vargas e que tinha João Goulart como candidato à presidência. Poucos dias após a homologação de JK como candidato do PSD, o PTB selou acordo tendo João Goulart (Jango) concorrendo como vice-presidente. Muitas foram as tentativas dos “anti-getulistas” para inviabilizar a campanha JK-Jango, apoiada, inclusive, pelo Partido Comunista Brasileiro.
A UDN era a principal rival dessa coligação, com intenções escancaradas de impedir a qualquer custo a vitória de JK, inclusive usando de meios ilícitos para cumprir seu objetivo. Nas eleições de 3 de Outubro de 1955, JK elegeu-se com 36% dos votos válidos, contra 30% de Juarez Távora (UDN), 26% de Ademar de Barros (PSP) e 8% de Plínio Salgado (PRP).
Naquela época, as eleições para presidente e vice não eram vinculadas, mas Jango foi o melhor votado para vice, recebendo mais votos do que JK e pôde, em 31 de Janeiro de 1956, sentar-se ao lado de seu companheiro de chapa para governar o país.
O governo desenvolvimentista
O governo de JK é lembrado como de grande desenvolvimento, incentivando o progresso econômico do país por meio da industrialização. Ao assumir sua candidatura, ele se comprometeu a trazer o desenvolvimento de forma absoluta para o Brasil, realizando 50 anos de progresso em apenas cinco de governo, o famoso “50 em 5”.
Seu mandato foi marcado por grande calmaria política, sofrendo apenas dois movimentos de contestação por medo das tendências esquerdistas do presidente: as revoltas militares de Jacareacanga, em fevereiro de 1956 e de Aragarças, em dezembro de 1959. As duas contaram com pequeno número de insatisfeitos, sendo ambas reprimidas pelas Forças Armadas. Com o fim das revoltas, Juscelino concedeu "anistia ampla e irrestrita" a todos os envolvidos nos acontecimentos.
O governo JK foi marcado por grandes obras e mudanças. As principais foram: - O Plano de Metas, que estabelecia 31 objetivos para serem cumpridos durante seu mandato, otimizando principalmente os setores de energia e transporte (com 70% do orçamento), indústrias de base, educação e alimentação. Os dois últimos não foram alcançados, mas isso passou despercebido diante de tantas melhorias proporcionadas por JK:
- Criação do Grupo Executivo da Indústria Automobilística (GEIA), implantando várias indústrias de automóvel no país;
- Criação do Conselho Nacional de Energia Nuclear;
- Expansão das usinas hidrelétricas para obtenção de energia elétrica, com a construção da Usina de Paulo Afonso, no Rio São Francisco, na Bahia e das barragens de Furnas e Três Marias;
- Criação do Grupo Executivo da Indústria de Construção Naval (Geicon);
- Abertura de novas rodovias, como a Belém-Brasília, unindo regiões até então isoladas entre si;
- Criação do Ministério das Minas e Energia, expandindo a indústria do aço;
- Criação da Superintendência para o Desenvolvimento do Nordeste (Sudene);
- Fundação de Brasília.
Durante esse governo houve um grande avanço industrial e a sua força motriz estava concentrada nas indústrias de base e na fabricação de bens de consumo duráveis e não-duráveis. O governo atraiu o investimento de capital estrangeiro no país incentivando a instalação de empresas internacionais, principalmente as automobilísticas.
Essa política desenvolvimentista só foi possível por meio de duas realizações de Vargas: a Companhia Siderúrgica Nacional, em Volta Redonda (RJ), em 1946 e a Petrobras, em 1953.
Com a criação da Siderúrgica, o Brasil pôde começar a produzir chapas de ferro e laminados de aço, necessários como material para outras indústrias na fabricação de ferramentas, pregos, eletrodomésticos, motores, navios, automóveis e aviões. A Siderúrgica impulsionou a indústria automobilística que, por sua vez, impulsionou a indústria de peças e equipamentos. As três juntas impulsionaram o crescimento e a construção de usinas hidrelétricas mais potentes.
A criação da Petrobras também forneceu matéria-prima para o desenvolvimento da indústria de derivados do petróleo, como plásticos, tintas, asfalto, fertilizantes e borracha sintética. Todo esse desenvolvimento concentrou-se no Sudeste brasileiro, enquanto as outras regiões continuavam com suas atividades econômicas tradicionais.
Por esse motivo, as correntes migratórias aumentaram, sobretudo as do Nordeste para o Sudeste – que chegaram a 600 mil pessoas em 1953, o que significava 5% da população nordestina – e do campo para a cidade. Os bens produzidos pelas indústrias eram acessíveis apenas a uma pequena parcela de brasileiros, enquanto que a maioria – formada pela classe trabalhadora – continuava política e economicamente marginalizada, prova cabal da concentração de riquezas nas mãos de poucos. Para tentar sanar esse problema, JK criou a Sudene, em 1959, para promover o desenvolvimento do Nordeste. A intenção era que houvesse industrialização e agricultura irrigada na região.
Porém, o seu partido, o PSD, era ligado aos coronéis do interior, o que impediu que a Sudene fosse um instrumento da prática da Reforma Agrária na região, solução decisiva para acabar com as desigualdades sociais. Além desses problemas, o progresso econômico também gerou muitas dívidas.
Apesar de o Produto Interno Bruto – PIB – ter crescido 7% ao ano e da taxa de renda per capita ter aumentado num ritmo quatro vezes maior do que o da América Latina, as exportações não atingiram o mesmo valor do endividamento e JK foi se enforcando com a própria corda.
O capital estrangeiro que trazia riquezas ao Brasil era o mesmo que lhe cobrava montanhas de juros pelos empréstimos realizados pelos Estados Unidos. Nessa época a taxa de inflação crescia sem parar e a moeda brasileira estava cada vez mais desvalorizada.
A sorte de Juscelino foi que esses problemas só vieram à tona quando seu mandato estava bem perto do fim, e isto não abalou a sua imagem diante da população, que até hoje o considera como um político visionário e de grande responsabilidade pelo desenvolvimento do país.
Brasília
A fundação de Brasília como nova capital do país, em localização estratégica, criou uma metrópole no interior do território nacional. Até 1950 existia uma idéia de que existiam dois “Brasis”: um litorâneo, produtivo e moderno e outro interiorano, estagnado social e economicamente. Brasília serviria para permitir a interiorização do desenvolvimento.
A Novacap, empresa responsável pela construção de Brasília, atraiu mais de 3 mil operários para o centro do país. Conhecidos como “candangos”, estes homens trabalhavam sem parar, noite e dia. No dia de sua inauguração, em 21 de Abril de 1960, a nova capital contou com a presença de mais de 100 mil visitantes que puderam ver o nascimento de um dos principais símbolos arquitetônicos do mundo, idealizado pelo renomado arquiteto Oscar Niemeyer.
Texto de Marla Rodrigues da Equipe Brasil Escola
www.brasilescola.com/historiab/juscelino-kubitschek.htm
Principais acontecimentos do Governo democrático de Getúlio Vargas
Para aqueles que não conseguiram entender o título desse artigo: Governo Democrático de Getúlio Vargas significa que não é o período no qual o Getúlio era deputado, nem senador, nem dono de casa tomando chimarrão de pijama. É o período no qual ele foi presidente, eleito democraticamente, ou seja, muito depois da Revolução de 1930, depois do Estado Novo, depois da Segunda Guerra Mundial.
(Sem entrar em questões filosóficas ou políticas sobre se a democracia brasileira é da fato uma democracia, como alguns já questionaram)
Alguns já perguntaram - QUAL O PRINCIPAL ACONTECIMENTO DESSE PERÍODO? - Ao que só é possível responder "depende".
Se você gostava dele na época, ou era alguém de sua família, talvez o principal tenha sido seu suicídio. Para os sindicatos, líderes trabalhistas e operários, foi o enorme aumento de salário, que desencadeou uma crise ainda pior.
TEM VÁRIOS OUTROS ACONTECIMENTOS DESSE PERÍODO, mas a ideia não é escrever um livro, nem várias páginas que ninguém vai ter paciência para ler.
A ideia é fazer um breve apanhado, para auxiliar em um estudo para prova ou em uma primeira pesquisa sobre o assunto. Não pretendo esgotar nenhum assunto, pois isso - além de tornar as leituras cansativas - foge à proposta desse blog!
Isso é um blog, não uma enciclopédia, né.
Então, segue alguns acontecimentos:
Em 1951, Getúlio Vargas retornou a presidência da República, dessa vez por meio do voto popular. Vargas se candidatou pelo PTB e recebeu apoio do Partido Social Progressista (PSP), vencendo o pleito de 1950 com 48,7% dos votos. O segundo mandato presidencial de Getúlio Vargas foi marcado por importantes iniciativas nas áreas social e econômica.(Sem entrar em questões filosóficas ou políticas sobre se a democracia brasileira é da fato uma democracia, como alguns já questionaram)
Alguns já perguntaram - QUAL O PRINCIPAL ACONTECIMENTO DESSE PERÍODO? - Ao que só é possível responder "depende".
Se você gostava dele na época, ou era alguém de sua família, talvez o principal tenha sido seu suicídio. Para os sindicatos, líderes trabalhistas e operários, foi o enorme aumento de salário, que desencadeou uma crise ainda pior.
TEM VÁRIOS OUTROS ACONTECIMENTOS DESSE PERÍODO, mas a ideia não é escrever um livro, nem várias páginas que ninguém vai ter paciência para ler.
A ideia é fazer um breve apanhado, para auxiliar em um estudo para prova ou em uma primeira pesquisa sobre o assunto. Não pretendo esgotar nenhum assunto, pois isso - além de tornar as leituras cansativas - foge à proposta desse blog!
Isso é um blog, não uma enciclopédia, né.
Então, segue alguns acontecimentos:
Em 1952, criou o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE), a fim de incentivar a indústria nacional.
Preocupado ainda com o desenvolvimento industrial no País, tão carente de infra-estrutura energética, aprovou, em 1953, a Lei n.° 2.004, que criava a Petrobrás, empresa estatal que detinha o monopólio de exploração e refino do petróleo no Brasil. A criação dessa empresa resultou da mobilização popular com base numa campanha denominada "O petróleo é nosso!"
Em 5 de agosto de 1954, na Rua Toneleros, no Rio de Janeiro, Carlos Lacerda sofreu um atentado, no qual morreu o major da Aeronáutica Rubens Vaz. Descobriu-se, posteriormente, que amigos do presidente estavam envolvidos no caso, dando à oposição elementos para exigir sua renúncia.
Consciente de sua deposição em breve, Vargas surpreendeu seus inimigos e a nação, suicidando-se, em 24 de agosto de 1954. Com a notícia de sua morte e a publicação de sua carta testamento, organizaram-se manifestações populares por todo o País. Jornais antigetulistas foram invadidos, bem como as sedes da UDN e a embaixada dos Estados Unidos, no Rio de Janeiro.
Sobre o Governo Dutra
Constituição Brasileira de 1946
A Constituição de 1946 foi a quinta constituição do Brasil e a quarta do período republicano. Essa Carta Magna foi escrita no governo de Eurico Gaspar Dutra, primeiro presidente eleito após o Estado Novo. Dentre os dispositivos legais constam:
- Foi restabelecido a autonomia dos 3 poderes (legislativo, judiciário e executivo);
- O Brasil continuou uma República Federalista, ou seja, foi mantida a autonomia dos estados;
- As eleições passaram a ser diretas e obrigatórias para os cargos eletivos de cargos do executivos e legislativos municipais, estaduais e federais;
- Foi garantido a liberdade de manifestação de pensamento, sem censura, a não ser em espetáculos e diversões públicas;
- O direito à associação sindical permaneceu e o direito de greve foi assegurado;
- Extinção da pena de morte;
- A igualdade de todos perante a lei;
- A inviolabilidade do sigilo de correspondência;
- A liberdade de consciência, de crença e de exercício de cultos religiosos;
- A liberdade de associação para fins lícitos;
- A inviolabilidade da casa como asilo do indivíduo;
- A prisão só em flagrante delito ou por ordem escrita de autoridade competente e a garantia ampla de defesa do acusado;
Populismo
Uma das contradições mais marcantes do populismo consiste em pregar a aproximação ao povo, mas, ao mesmo tempo, estabelecer mecanismo de controle que permitam o aparecimento de tendências políticas contrárias ao poder vigente. De tal maneira, os governos populistas também são marcados pela desarticulação das oposições políticas e a troca dos “favores ao povo” pelo apoio incondicional ao grande líder responsável pela condução do país.
Além do autoritarismo e do assistencialismo, os governos populistas também tem grande preocupação com o uso dos meios de comunicação como instrumento de divulgação das ações do governo. Por meio da instalação ou do controle desses meios, o populismo utiliza de uma propaganda oficial massiva que procura se disseminar entre os mais distintos grupos sociais através do uso irrestrito das rádios, jornais, revistas e emissoras de televisão.
24 abril 2010
QUETZALCÓATL: HOMEM, SANTO OU DIVINDADE?
A cultura asteca, sua história, sua sociedade, sua produção artística estão intimamente ligadas às suas crenças religiosas. Essa religião é, principalmente, animista e dualista, na qual magia e cosmogonia fundem-se em um único elemento. Segundo Soustelle, os Astecas são os indígenas mais religiosos do México. Sua religião simples e dualista, quase que totalmente astral – ao menos em sua origem – foi enriquecendo-se ao longo do tempo através dos contatos com os povos sedentários do Centro. Conforme seu império foi se expandindo foi se incorporando novos elementos religiosos. Tanto que por volta do século XVI, sua religião era um denso conjunto de crenças e cultos de origens distintas.
A característica marcante da escatologia asteca é o seu caráter fatalista, onde não há vestígios de esperança. O caráter dualista domina o mundo espiritual asteca, estando presente nas forças da natureza e no panteão. Os deuses foram criados pela união dos princípios masculino e feminino: “os membros do casal supremo, Senhor e Senhora da Dualidade”[1]. Segundo Lehmann, a religião exercia um domínio total na vida dos astecas e absorvia grande parte de sua força. Os deuses comandavam tanto o Estado como o indivíduo. Todos os acontecimentos da vida, o dia do nascimento e o da morte, o bom ou mau destino, tudo fazia parte dos desígnios divinos. O princípio duplo inexoravelmente se manifesta também na formação dos deuses, e na formação da humanidade: “se llega a concebir que todo cuanto existe obedece a la acción de dos principios antagonicos que lucha eternamente (dualismo). Sólo así se explica la lucha entre el mal y el bien". [2]
A maior dificuldade em se estudar a religião asteca e seu panteão (sua mitologia) está no caráter mágico dela, que se deve à visão dualista do mundo. Os astecas, ao assimilar outros povos, assimilavam também suas divindades e seus cultos. Todavia essa incorporação de novas divindades era organizada pela classe sacerdotal que buscava reduzir a quantidade de divindades considerando cada deus como multifacetado.
Essa multiplicidade de deuses de diversas origens e diferentes atributos é visível quando se tenta ordena-los. Cada divindade asteca podia sofrer diversas manifestações e apresentar-se com diferentes atribuições. É o exemplo de Quetzalcóatl, um dos deuses mais importantes. Sua origem é tolteca, porém há manifestações suas por toda a América Latina. Para os astecas ele é o deus do vento, da vida, da manhã, do planeta Vênus, dos gêmeos, dos monstros, patrono das artes e da sabedoria, criador e pai dos homens. Seus nomes são: Quetzalcóatl, Ehécatl, Tlahuizcalpantecuhtli, Ce Ácatl, Xólotl, entre outros.
O nome Quetzalcóatl significa literalmente “serpente de plumas”, porém quetzal é também o símbolo de “coisa preciosa”, e cóatl significa gêmeo. Portanto o nome Quetzal-cóatl pode ser traduzido como “gêmeo precioso”, indicando sua atribuição de estrela matutina e vespertina. Esta identificação com o planeta Vênus deu origem a diversos mitos e explica quase todas as lendas de Quetzalcóatl.
Dentre os mitos envolvendo esse deus o mais importante é o da criação do homem. O mundo para os astecas, foi criado varias vezes. Isso porque a criação era seguida pela destruição por cataclismos. A última vez que o homem foi criado o deus Quetzalcóatl foi ao mundo dos mortos recolher os ossos dos homens, verteu sobre eles seu próprio sangue e deu vida novamente aos homens. Essa lenda explica a importância dos rituais de sacrifício humano e o papel fundamental que o sangue exerce nessa religião. Os homens, para manter-se vivos precisam manter vivos os deuses, alimentando-os com sangue humano. Apesar dessa lenda que justifica o sacrifício humano estar ligada diretamente à Quetzalcóatl consta que ele, durante seu governo sobre o mundo, proibiu essa prática.
Quetzalcóatl foi, sem dúvida, o mito mais difundido por toda a Meso-América. Com caráter multiforme, porém sempre benigno. Esse aspecto valente, bom, de herói integrador seria muito bem aproveitado pelos evangelistas espanhóis no momento de “garimpar” almas para a religião cristã. Do mito de Quetzalcóatl há varias versões, entretanto nenhuma delas sobreviveu à conquista espanhola de 1519 sob a forma escrita. Os pontos em comum na grande maioria das versões é o fato de que Quetzalcóatl, após criar os homens, desceu das efemérides divinas e encarnou como homem, veio para ensinar à humanidade todas as artes, a sabedoria e a bondade.
O homem Quetzalcóatl foi um rei tolteca muito justo, sacerdote, astrônomo, foi quem adaptou o calendário maia em algumas partes e estruturou o calendário tolteca, assimilado mais tarde pelos astecas. Seu reinado marca a assimilação do povo maia pelos toltecas. Teria morrido em 5 de abril de 1208, exilado em algumas versões, traído e morto
Quetzalcoatl tatoo design. Excerpts from the Tattoo Encyclopedia: A Guide to Choosing Your Tattoo
by Terisa Green and Greg James
Um dos escritores que percebeu o caráter “messiânico” da lenda de Quetzalcóatl foi Bernardino de Sahagún. No primeiro livro de sua Historia general de las cosas de Nueva España ele tenta recuperar a figura de Quetzalcóatl assimilando-a a Jesus Cristo. A intenção de Sahagún foi explicar a outros missionários a concepção de mundo dos mexicas, para com isso poder afirmar o cristianismo e melhor evangelizar. Notória é a visão tendenciosa que Sahagún passa em sua obra, nesta assimilação da figura do deus tolteca existe um interesse ideológico deformador. Por outro lado, a aristocracia mexica pós-conquista também possuía o peremptório desejo de reabilitar Quetzalcóatl, como uma figura quase cristã, pois isso legitimava seu poder e a conseqüente manutenção deste.
Quetzalcoatl, desenho de Adam Fu Reed.
Sahagún não define o retorno de Quetzalcóatl como sendo uma profecia da chegada dos espanhóis, embora perpasse a idéia de que os espanhóis são companheiros do deus. Outros escritores vão além, é o exemplo de Las Casas que sugere que os cristãos são filhos e irmãos de Quetzalcóatl. Desta maneira tentou-se converter Quetzalcóatl em um apóstolo de Cristo para poder cristianizar mais facilmente. Como Paz salienta: a mentalidade européia viu-se confrontada pelas impenetráveis civilizações da América.
A partir de meados do século XVI foram feitas diversas tentativas para suprimir as diferenças entre mexicas e espanhóis. Alguns alegavam serem os antigos mexicanos descendentes de uma tribo perdida de Israel; outros os consideravam como sendo de origem fenícia ou cartaginesa; outros ainda estabeleciam relações entre certos ritos dos astecas semelhantes a cerimônias cristãs, imaginando que aqueles fossem um eco distorcido da pregação do evangelista São Tomé. Essa corrente defendia que o evangelista teria vindo para as Américas e adotado o nome de Quetzalcóatl [3].
A crença em uma evangelização realizada muito antes da chagada dos espanhóis no Novo Mundo, realizada por São Tomé, resulta da leitura de São Paulo que afirma que a palavra de Cristo foi levada até os confins da terra, pelos apóstolos. Atualmente sabemos da existência de correntes marítimas ligando a costa oeste da África às laterais leste da América, todavia o pensamento quinhentista desconhecia esse fato. Lafaye informa que a descoberta de textos bíblicos e de fatos novos permeados de crenças antigas seriam argumento suficiente para corroborar a idéia de que Quetzalcóatl foi o apóstolo São Tomé.
"Aztec and Maya Myths." Karl Taube. University of Texas Press. ©1993
Mesmo entre os índios houve confusão a respeito da similitude dos espanhóis com o mito do regresso de Quetzalcóatl. A lenda rezava que Quetzalcóatl regressaria de seu exílio e novamente instauraria a idade de ouro. Esta profecia possuía um caráter cronológico. O deus deveria retornar em um ano 1 acatl, coincidentemente os espanhóis aportaram no México em um ano 1 acatl, o ano de 1519. O próprio Hernán Cortéz foi confundido com o deus. Porém essa crença não logrou. O rei Montezuma mandou levar até Cortés os ornamentos sagrados de Quetzalcóatl com a finalidade de verificar a identidade do deus, o que não ocorreu.
Mesmo que ainda restassem dúvidas a respeito da identificação de Cortés com o deus, o massacre efetivado pelas tropas espanholas em Cholula, cidade sagrada de Quetzalcóatl, bastaria para dissipar quaisquer equívocos. Lafaye demonstra que a profecia de Quetzalcóatl “aparece como un caso particular, para México, de una crencia común a la mayoría de las poblaciones indígenas, según la cual unos superhombres vendrían del este para dominarlos” [4] é certo que os espanhóis foram posteriormente considerados filhos do Sol, companheiros de Quetzalcóatl, este foi um estratagema político para facilitar a penetração do continente, mas serviu também como fonte de inspiração para os missionários criarem uma brecha para a evangelização.
Quetzalcoatl, escultura asteca.
Se São Tomé esteve na Meso-América pregando a “boa-nova”, ou se algum outro europeu esteve em terras mexicas em alguma era pré-colombiana, são conjecturas que até o momento não se podem provar. O fato é que os povos do México possuíam uma religião bastante complexa e dentre seu panteão destaca-se a importante figura de Quetzalcóatl. Esse deus foi criador da humanidade, professor dos homens, foi deus e rei encarnado. Sua morte causou tristeza em seu povo, a ponto de se construir uma profecia de seu retorno. Como todo herói “messiânico”, indícios de sua volta não faltaram. Como se não bastasse a superstição do povo, os invasores chegam sob a auspiciosa data profética.
Os evangelizadores espanhóis tinham consciência de seu papel de divulgadores da “verdade” cristã e lançaram mão dos meios que lhes foram apresentados. Legitimar sua presença em solo mexicano através de um mito cosmogônico foi um meio para alcançar a mentalidade desse povo a ser conquistado e catequizado.
[1] SOUSTELLE, Jacques. A Civilização Asteca. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1987, p.68.
[2] CASO, Alfonso. El pueblo del Sol. México: Fondo de Cultura Economica, 1962, p.14.
[3] Cf. PAZ, Octavio. Essays on Mexican Art. New York: Harcourt Brace & Company, 1993.
[4] LAFAYE, Jacques. Quetzalcoatl y Guadalupe : la formacion de la conciencia nacional en Mexico. Mexico: Fondo de Cultura Economica, 1985, p.227.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
CASO, Alfonso. El pueblo del Sol. México: Fondo de Cultura Economica, 1962.
COLLIER, John. Los Indios de Las Americas. México: Fondo de Cultura Economica, 1960.
LAFAYE, Jacques. Quetzalcoatl y Guadalupe : la formacion de la conciencia nacional en Mexico. Mexico: Fondo de Cultura Economica, 1985.
LEHMANN, Henri. Las Culturas Precolombinas. Buenos Aires: EUDEBA, 1960.
PAZ, Octavio. Essays on Mexican Art. New York: Harcourt Brace & Company, 1993.
SAHAGÚN, Bernardino de. Historia general de las cosas de Nueva España. 4. ed. México: Porrúa, 1979.
SOUSTELLE, Jacques. A Civilização Asteca. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1987.
SOUSTELLE, Jacques. La vida cotidiana de los aztecas en vísperas de la conquista. México: Fondo de Cultura Economica, 1956.
06 abril 2010
As Guerras Médicas e a participação da cidade de Argos
Heródoto nos narra que ao se preparar para a invasão da Grécia o rei dos persas, Xerxes, mandou um arauto com uma mensagem amistosa, alegando serem os persas descendentes dos argivos e que em respeito ao culto a um antepassado comum eles não deveriam guerrear entre si. A cidade de Argos aceita essa aliança e em resposta aos enviados pelos helenos, que foram recrutar seu apoio, alegam a antipatia pela idéia de serem comandados pelos lacedemônios.
Não vamos negar que Argos nesse momento era submetida à Esparta e que há sem dúvida o interesse de livrarem-se do jugo lacedemônios, porém o argumento feito por Xerxes foi de extrema importância.
Portanto a religião na Grécia Clássica é considerada de crucial importância para a obtenção dos objetivos deste trabalho. Analisaremos a religião grega, sua influência na formação da mentalidade do homem grego nesse período e seu caráter, procurando os pontos que nos permitam identificar a nossa hipótese supracitada.
Contextualização espaço temporal
Nossa história tem como personagens o rei persa Xerxes e a cidade de Argos:
Para tal buscou apoio nas disputas internas da própria Grécia. Entrou com pedido de terra e água a algumas poleis e enviou arautos propondo alianças a outras como no caso de Argos.
Da “História” de Heródoto o trecho a que nos propomos a estudar é o parágrafo 150 do livro VII:
mas caro aos deuses imortais, mantém-te em guarda
lá dentro das muralhas, empunhando a lança
e cuida da cabeça; ela te salvará.”
Esse oráculo já lhes tinha sido dado pela Pítia anteriormente ...
O mito de Perseu
A mitologia nos conta que um antigo rei da cidade de Argos, Acrisius prendeu sua filha Danae numa masmorra com receio que ela engravidasse, pois segundo um oráculo seu neto vindouro seria o autor de sua morte.
Zeus, o deus maior, compadeceu-se da moça e apaixonou-se por ela, caindo em forma de chuva por entre as grades da masmorra engravidou-a. desta união nasceu Perseu. Enfurecido o rei Acrisius aprisiona mãe e filho em um baú e lança-os ao mar. Dias depois aportam numa ilha distante e são libertos e acolhidos pelos reis locais, Dictys e Polidectes, que eram irmãos. Alguns anos mais tarde, a pretexto de ver-se livre de Perseus para assim não haver objeção ao seu casamento com Danae, Polidectes propõe um desafio a Perseus: trazer a cabeça da gorgone Medusa.
Análise Bibliográfica
Quando falamos nas crenças gregos existe um grande risco de confundirmos a religião e a mitologia. A religião para os gregos da Antigüidade está na manutenção dos seus objetos de fé, seus ritos e cerimônia sacralizadas. A mitologia faz parte desta religião mas de maneira secundária, segundo Robert o mito surge freqüentemente mas sempre como um subterfúgio que explica o ritual e o torna sagrado. “A religião não está no que se conta, mas no que se faz.”(Robert p.6) ou seja a verdadeira religião grega está em seus cultos, ritos e cerimônias e não nas suas lendas.
Então qual a importância do mito de Perseu para os argivos do século V a.C.? E qual seria a relação entre esses e os persas?
Coulanges ainda nos acrescenta que entre os antigos havia a crença do antepassado como um ser gerador que fornecia o mistério da criação. “O gerador surgia-lhes como ente divino e por isso o adoravam no seu antepassado.” (p.40)
Portanto a religião era o que permeava a vida do homem antigo. Todos os seus atos na vida pública ou privada, era determinado por suas crenças. O Estado também era submetido a religião, tanto que era difícil distinguir um do outro e nunca se ouviu falar de conflitos entre ambos. Ocorria exatamente o contrário, temos exemplos de governantes apoiando seus cargos políticos sustentados pela religiosidade do povo.
Além dos oráculos havia uma série de ritos, cerimônias, festas de conotação religiosa, enfim uma série de atividades sacralizadas que constituíam a religião em si. Esta religião não propunha ao homem uma reflexão ou ainda interrogações sobre os seus deuses. Ao contrário, sujeitava-o a um incrível número de minuciosas cerimonias e ritos, práticas preestabelecidas pelos antepassados de seus antepassados e que eram obrigatórias.
Conclusão
A sociedade grega do século V a.C. possuía enorme influência religiosa, tanto em seu cotidiano como em suas instituições. Nossa hipótese se baseou na força de religião para o homem grego, o quão forte seria a religião a ponto de interferir em uma decisão política.
Referência Bibliográficas
Fonte:
1. HERÓDOTO. História. Brasília: Universidade de Brasília, 1988.
2. COULANGES, Fustel de. A Cidade Antiga. Porto: Imprensa Portuguesa, 1971.
3. ELIADE, Mircea. O Sagrado e o Profano. A essência das religiões. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
4. GASSER-COSE, Françoise. A Grécia do Partenon. Rio de Janeiro: Ferni, 1978.
5. GLOTZ, Gustave. A Cidade Grega. São Paulo: Difusão Editorial, 1980.
6. ROBERT, Fernand. A Religião Grega. Coleção Universidade Hoje. São Paulo: Martins Fontes, 1981.
7. SCHWAB, Gustav. Dioses y Heroes. Mitos u Épica de la Antigua Grecia. Trad.esp. URRIZA, José Goñi. Buenos Aires: Santiago Rueda, 1949.
03 março 2010
Respondendo as perguntas sobre a Batalha das Termópilas
As cenas de combate presentes são um capítulo à parte. Miller abusa de cortes, texturas e silhuetas. O seu trabalho sempre foi muito elogiado quanto ao design arrojado de suas páginas e a força de sua composição. Mas é o conjunto da página que apraz aos olhos, e não somente o desenho em si. É um misto de elegância e audácia da distribuição dos quadros e seqüências.Em 300, a maturidade de Miller está evidente. Da sua escolha de fazer da página dupla a sua prancha de desenho, transformando a leitura tradicionalmente vertical em amplas horizontais, ao uso criterioso das silhuetas chapadas em meio ao colorido maravilhoso de sua esposa, Lynn Varley.
- Os esparciatas, que eram a camada dominante, e não excediam um vigésimo da população global. Somente estes tinham privilégios políticos;
- Os periecos, indivíduos que fizeram parte de povos que foram aliados dos espartanos ou que se juntaram a eles por vontade própria. Tinham permissão de exercer o comércio e a manufatura;
- Os hilotas, que eram os servos e escravos, provenientes dos povos dominados à força.