28 agosto 2010

POPULISMO NO BRASIL


MAPA CONCEITUAL - JK


Governo de Juscelino Kubistschek

Governo de Juscelino Kubistschek
Com o suicídio de Getúlio Vargas, em 24 de Agosto de 1954, abriu-se um buraco no poder e também na herança política, perseguida por seus simpatizantes e adversários. Para substituí-lo tentaram lançar uma candidatura de “união nacional”, com a adesão de dois dos maiores partidos políticos da época: o Partido Social Democrático (PSD) e a União Democrática Nacional (UDN). Eles teriam um candidato único, que uniria a direita e o centro e evitaria uma nova candidatura radical como era a “getulista”.Esta idéia, porém, não se concretizou e, em 10 de Fevereiro de 1955, o PSD homologou o nome de Juscelino Kubitschek como candidato à presidência da República.

JK sabia que precisava do apoio de uma base sólida e da aceitação popular, como tinha o PTB, partido de Vargas e que tinha João Goulart como candidato à presidência. Poucos dias após a homologação de JK como candidato do PSD, o PTB selou acordo tendo João Goulart (Jango) concorrendo como vice-presidente. Muitas foram as tentativas dos “anti-getulistas” para inviabilizar a campanha JK-Jango, apoiada, inclusive, pelo Partido Comunista Brasileiro.

A UDN era a principal rival dessa coligação, com intenções escancaradas de impedir a qualquer custo a vitória de JK, inclusive usando de meios ilícitos para cumprir seu objetivo. Nas eleições de 3 de Outubro de 1955, JK elegeu-se com 36% dos votos válidos, contra 30% de Juarez Távora (UDN), 26% de Ademar de Barros (PSP) e 8% de Plínio Salgado (PRP).

Naquela época, as eleições para presidente e vice não eram vinculadas, mas Jango foi o melhor votado para vice, recebendo mais votos do que JK e pôde, em 31 de Janeiro de 1956, sentar-se ao lado de seu companheiro de chapa para governar o país.

O governo desenvolvimentista

O governo de JK é lembrado como de grande desenvolvimento, incentivando o progresso econômico do país por meio da industrialização. Ao assumir sua candidatura, ele se comprometeu a trazer o desenvolvimento de forma absoluta para o Brasil, realizando 50 anos de progresso em apenas cinco de governo, o famoso “50 em 5”.

Seu mandato foi marcado por grande calmaria política, sofrendo apenas dois movimentos de contestação por medo das tendências esquerdistas do presidente: as revoltas militares de Jacareacanga, em fevereiro de 1956 e de Aragarças, em dezembro de 1959. As duas contaram com pequeno número de insatisfeitos, sendo ambas reprimidas pelas Forças Armadas. Com o fim das revoltas, Juscelino concedeu "anistia ampla e irrestrita" a todos os envolvidos nos acontecimentos.

O governo JK foi marcado por grandes obras e mudanças. As principais foram: - O Plano de Metas, que estabelecia 31 objetivos para serem cumpridos durante seu mandato, otimizando principalmente os setores de energia e transporte (com 70% do orçamento), indústrias de base, educação e alimentação. Os dois últimos não foram alcançados, mas isso passou despercebido diante de tantas melhorias proporcionadas por JK:

  • Criação do Grupo Executivo da Indústria Automobilística (GEIA), implantando várias indústrias de automóvel no país;
  • Criação do Conselho Nacional de Energia Nuclear;
  • Expansão das usinas hidrelétricas para obtenção de energia elétrica, com a construção da Usina de Paulo Afonso, no Rio São Francisco, na Bahia e das barragens de Furnas e Três Marias;
  • Criação do Grupo Executivo da Indústria de Construção Naval (Geicon);
  • Abertura de novas rodovias, como a Belém-Brasília, unindo regiões até então isoladas entre si;
  • Criação do Ministério das Minas e Energia, expandindo a indústria do aço;
  • Criação da Superintendência para o Desenvolvimento do Nordeste (Sudene);
  • Fundação de Brasília.

Durante esse governo houve um grande avanço industrial e a sua força motriz estava concentrada nas indústrias de base e na fabricação de bens de consumo duráveis e não-duráveis. O governo atraiu o investimento de capital estrangeiro no país incentivando a instalação de empresas internacionais, principalmente as automobilísticas.

Essa política desenvolvimentista só foi possível por meio de duas realizações de Vargas: a Companhia Siderúrgica Nacional, em Volta Redonda (RJ), em 1946 e a Petrobras, em 1953.

Com a criação da Siderúrgica, o Brasil pôde começar a produzir chapas de ferro e laminados de aço, necessários como material para outras indústrias na fabricação de ferramentas, pregos, eletrodomésticos, motores, navios, automóveis e aviões. A Siderúrgica impulsionou a indústria automobilística que, por sua vez, impulsionou a indústria de peças e equipamentos. As três juntas impulsionaram o crescimento e a construção de usinas hidrelétricas mais potentes.

A criação da Petrobras também forneceu matéria-prima para o desenvolvimento da indústria de derivados do petróleo, como plásticos, tintas, asfalto, fertilizantes e borracha sintética. Todo esse desenvolvimento concentrou-se no Sudeste brasileiro, enquanto as outras regiões continuavam com suas atividades econômicas tradicionais.

Por esse motivo, as correntes migratórias aumentaram, sobretudo as do Nordeste para o Sudeste – que chegaram a 600 mil pessoas em 1953, o que significava 5% da população nordestina – e do campo para a cidade. Os bens produzidos pelas indústrias eram acessíveis apenas a uma pequena parcela de brasileiros, enquanto que a maioria – formada pela classe trabalhadora – continuava política e economicamente marginalizada, prova cabal da concentração de riquezas nas mãos de poucos. Para tentar sanar esse problema, JK criou a Sudene, em 1959, para promover o desenvolvimento do Nordeste. A intenção era que houvesse industrialização e agricultura irrigada na região.

Porém, o seu partido, o PSD, era ligado aos coronéis do interior, o que impediu que a Sudene fosse um instrumento da prática da Reforma Agrária na região, solução decisiva para acabar com as desigualdades sociais. Além desses problemas, o progresso econômico também gerou muitas dívidas.

Apesar de o Produto Interno Bruto – PIB – ter crescido 7% ao ano e da taxa de renda per capita ter aumentado num ritmo quatro vezes maior do que o da América Latina, as exportações não atingiram o mesmo valor do endividamento e JK foi se enforcando com a própria corda.

O capital estrangeiro que trazia riquezas ao Brasil era o mesmo que lhe cobrava montanhas de juros pelos empréstimos realizados pelos Estados Unidos. Nessa época a taxa de inflação crescia sem parar e a moeda brasileira estava cada vez mais desvalorizada.

A sorte de Juscelino foi que esses problemas só vieram à tona quando seu mandato estava bem perto do fim, e isto não abalou a sua imagem diante da população, que até hoje o considera como um político visionário e de grande responsabilidade pelo desenvolvimento do país.

Brasília

A fundação de Brasília como nova capital do país, em localização estratégica, criou uma metrópole no interior do território nacional. Até 1950 existia uma idéia de que existiam dois “Brasis”: um litorâneo, produtivo e moderno e outro interiorano, estagnado social e economicamente. Brasília serviria para permitir a interiorização do desenvolvimento.

A Novacap, empresa responsável pela construção de Brasília, atraiu mais de 3 mil operários para o centro do país. Conhecidos como “candangos”, estes homens trabalhavam sem parar, noite e dia. No dia de sua inauguração, em 21 de Abril de 1960, a nova capital contou com a presença de mais de 100 mil visitantes que puderam ver o nascimento de um dos principais símbolos arquitetônicos do mundo, idealizado pelo renomado arquiteto Oscar Niemeyer.
Texto de Marla Rodrigues da Equipe Brasil Escola
www.brasilescola.com/historiab/juscelino-kubitschek.htm

MAPA CONCEITUAL - Crise do Governo Vargas


Principais acontecimentos do Governo democrático de Getúlio Vargas

Resultado de imagem
Para aqueles que não conseguiram entender o título desse artigo: Governo Democrático de Getúlio Vargas significa que não é o período no qual o Getúlio era deputado, nem senador, nem dono de casa tomando chimarrão de pijama. É o período no qual ele foi presidente, eleito democraticamente, ou seja, muito depois da Revolução de 1930, depois do Estado Novo, depois da Segunda Guerra Mundial.

(Sem entrar em questões filosóficas ou políticas sobre se a democracia brasileira é da fato uma democracia, como alguns já questionaram)
Alguns já perguntaram - QUAL O PRINCIPAL ACONTECIMENTO DESSE PERÍODO? - Ao que só é possível responder "depende".
Se você gostava dele na época, ou era alguém de sua família, talvez o principal tenha sido seu suicídio. Para os sindicatos, líderes trabalhistas e operários, foi o enorme aumento de salário, que desencadeou uma crise ainda pior.

TEM VÁRIOS OUTROS ACONTECIMENTOS DESSE PERÍODO, mas a ideia não é escrever um livro, nem várias páginas que ninguém vai ter paciência para ler.

A ideia é fazer um breve apanhado, para auxiliar em um estudo para prova ou em uma primeira pesquisa sobre o assunto. Não pretendo esgotar nenhum assunto, pois isso - além de tornar as leituras cansativas - foge à proposta desse blog!
Isso é um blog, não uma enciclopédia, né.

Então, segue alguns acontecimentos:

Em 1951, Getúlio Vargas retornou a presidência da República, dessa vez por meio do voto popular. Vargas se candidatou pelo PTB e recebeu apoio do Partido Social Progressista (PSP), vencendo o pleito de 1950 com 48,7% dos votos. O segundo mandato presidencial de Getúlio Vargas foi marcado por importantes iniciativas nas áreas social e econômica.

Em 1952, criou o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE), a fim de incentivar a indústria nacional.

Preocupado ainda com o desenvolvimento industrial no País, tão carente de infra-estrutura energética, apro­vou, em 1953, a Lei n.° 2.004, que criava a Petrobrás, em­presa estatal que detinha o monopólio de exploração e refino do petróleo no Brasil. A criação dessa empresa re­sultou da mobilização popular com base numa campanha denominada "O petróleo é nosso!"

No plano trabalhista, procurou compensar os traba­lhadores, grandemente afetados pelo processo inflacio­nário, dobrando o valor do salário mínimo, a 1° de maio de 1954. Com isso, conquistou o apoio da classe trabalhado­ra.

A política estatizante, de cunho nacionalista, acio­nada por Vargas, desencadeou a franca oposição de mui­tos empresários ligados às empresas estrangeiras. A es­tes aliaram-se antigetulistas tradicionais, como os mem­bros da UDN e alguns oficiais das Forças Armadas. As mais duras críticas ao Governo partiam do jornalista udenista Carlos Lacerda, que acusava Vargas de estar tra­mando um golpe que estabelecia uma República sindica­lista, o que, na opinião de Lacerda, propiciaria a infiltração comunista.

Em 5 de agosto de 1954, na Rua Toneleros, no Rio de Janeiro, Carlos Lacerda sofreu um atentado, no qual mor­reu o major da Aeronáutica Rubens Vaz. Descobriu-se, posteriormente, que amigos do presidente estavam en­volvidos no caso, dando à oposição elementos para exigir sua renúncia.

Consciente de sua deposição em breve, Vargas sur­preendeu seus inimigos e a nação, suicidando-se, em 24 de agosto de 1954. Com a notícia de sua morte e a publica­ção de sua carta testamento, organizaram-se manifestações populares por todo o País. Jornais antigetulistas foram invadidos, bem como as sedes da UDN e a embaixada dos Estados Unidos, no Rio de Janeiro.


Lacerda, baleado no pé, é amparado por policiais. Começava a crise política de Getúlio Vargas

Com a morte de Getúlio, o vice-presidente Café Filho assumiu o poder. No ano seguinte, realizaram-se eleições para a presidência, vencendo o candidato da coligação PSD-PTB, Juscelino Kubitschek de Oliveira. O vice-presi­dente eleito foi João Goulart. Antes da posse de Jusceli­no houve um golpe fracassado.

MAPA CONCEITUAL - Governo Democrático de Getúlio Vargas (1951 - 1954)

Sobre o Governo Dutra

O governo do General Eurico Gaspar Dutra esteve inserido no contexto do início da Guerra Fria. Dessa forma, o Brasil, como aliado ao bloco capitalista, passou a ver com antipatia o crescimento do prestígio dos ideais comunistas. A figura do líder do PCB – Luís Carlos Prestes – crescia rapidamente na opinião popular, assim, o presidente cassou os mandatos dos deputados do PCB e colocou o partido na ilegalidade. Além disso, foi estabelecido um rígido controle sobre os sindicatos. Dentro desse mesmo contexto, o governo de Dutra rompeu relações diplomáticas com a URSS.

Constituição Brasileira de 1946

A Constituição de 1946 foi a quinta constituição do Brasil e a quarta do período republicano. Essa Carta Magna foi escrita no governo de Eurico Gaspar Dutra, primeiro presidente eleito após o Estado Novo. Dentre os dispositivos legais constam:

  • Foi restabelecido a autonomia dos 3 poderes (legislativo, judiciário e executivo);
  • O Brasil continuou uma República Federalista, ou seja, foi mantida a autonomia dos estados;
  • As eleições passaram a ser diretas e obrigatórias para os cargos eletivos de cargos do executivos e legislativos municipais, estaduais e federais;
  • Foi garantido a liberdade de manifestação de pensamento, sem censura, a não ser em espetáculos e diversões públicas;
  • O direito à associação sindical permaneceu e o direito de greve foi assegurado;
  • Extinção da pena de morte;
  • A igualdade de todos perante a lei;
  • A inviolabilidade do sigilo de correspondência;
  • A liberdade de consciência, de crença e de exercício de cultos religiosos;
  • A liberdade de associação para fins lícitos;
  • A inviolabilidade da casa como asilo do indivíduo;
  • A prisão só em flagrante delito ou por ordem escrita de autoridade competente e a garantia ampla de defesa do acusado;

MAPA CONCEITUAL - POPULISMO


Populismo

O populismo foi um tipo de situação política experimentada na América Latina entre as décadas de 1930 e 1960. Nessa época, várias das nações latinas – vistas como portadoras de uma economia periférica – viveram uma fase de desenvolvimento econômico seguido pelo crescimento dos centros urbanos e a rearticulação das forças sociais e políticas. Foi em meio a essas transformações diversas que a prática populista ganhou terreno.

No Brasil, podem-se localizar características populistas desde a década de 1930 e se estende até o governo de João Goulart. Esse período pode ser definido como a ascensão de governos que manipulavam as massas populares atendendo suas reivindicações.

Uma das contradições mais marcantes do populismo consiste em pregar a aproximação ao povo, mas, ao mesmo tempo, estabelecer mecanismo de controle que permitam o aparecimento de tendências políticas contrárias ao poder vigente. De tal maneira, os governos populistas também são marcados pela desarticulação das oposições políticas e a troca dos “favores ao povo” pelo apoio incondicional ao grande líder responsável pela condução do país.

Além do autoritarismo e do assistencialismo, os governos populistas também tem grande preocupação com o uso dos meios de comunicação como instrumento de divulgação das ações do governo. Por meio da instalação ou do controle desses meios, o populismo utiliza de uma propaganda oficial massiva que procura se disseminar entre os mais distintos grupos sociais através do uso irrestrito das rádios, jornais, revistas e emissoras de televisão.

24 abril 2010

QUETZALCÓATL: HOMEM, SANTO OU DIVINDADE?

Quetzalcoatl. Pintura de Dan Staten


A cultura asteca, sua história, sua sociedade, sua produção artística estão intimamente ligadas às suas crenças religiosas. Essa religião é, principalmente, animista e dualista, na qual magia e cosmogonia fundem-se em um único elemento. Segundo Soustelle, os Astecas são os indígenas mais religiosos do México. Sua religião simples e dualista, quase que totalmente astral – ao menos em sua origem – foi enriquecendo-se ao longo do tempo através dos contatos com os povos sedentários do Centro. Conforme seu império foi se expandindo foi se incorporando novos elementos religiosos. Tanto que por volta do século XVI, sua religião era um denso conjunto de crenças e cultos de origens distintas.

A característica marcante da escatologia asteca é o seu caráter fatalista, onde não há vestígios de esperança. O caráter dualista domina o mundo espiritual asteca, estando presente nas forças da natureza e no panteão. Os deuses foram criados pela união dos princípios masculino e feminino: “os membros do casal supremo, Senhor e Senhora da Dualidade”[1]. Segundo Lehmann, a religião exercia um domínio total na vida dos astecas e absorvia grande parte de sua força. Os deuses comandavam tanto o Estado como o indivíduo. Todos os acontecimentos da vida, o dia do nascimento e o da morte, o bom ou mau destino, tudo fazia parte dos desígnios divinos. O princípio duplo inexoravelmente se manifesta também na formação dos deuses, e na formação da humanidade: “se llega a concebir que todo cuanto existe obedece a la acción de dos principios antagonicos que lucha eternamente (dualismo). Sólo así se explica la lucha entre el mal y el bien". [2]

A maior dificuldade em se estudar a religião asteca e seu panteão (sua mitologia) está no caráter mágico dela, que se deve à visão dualista do mundo. Os astecas, ao assimilar outros povos, assimilavam também suas divindades e seus cultos. Todavia essa incorporação de novas divindades era organizada pela classe sacerdotal que buscava reduzir a quantidade de divindades considerando cada deus como multifacetado.

Essa multiplicidade de deuses de diversas origens e diferentes atributos é visível quando se tenta ordena-los. Cada divindade asteca podia sofrer diversas manifestações e apresentar-se com diferentes atribuições. É o exemplo de Quetzalcóatl, um dos deuses mais importantes. Sua origem é tolteca, porém há manifestações suas por toda a América Latina. Para os astecas ele é o deus do vento, da vida, da manhã, do planeta Vênus, dos gêmeos, dos monstros, patrono das artes e da sabedoria, criador e pai dos homens. Seus nomes são: Quetzalcóatl, Ehécatl, Tlahuizcalpantecuhtli, Ce Ácatl, Xólotl, entre outros.


O nome Quetzalcóatl significa literalmente “serpente de plumas”, porém quetzal é também o símbolo de “coisa preciosa”, e cóatl significa gêmeo. Portanto o nome Quetzal-cóatl pode ser traduzido como “gêmeo precioso”, indicando sua atribuição de estrela matutina e vespertina. Esta identificação com o planeta Vênus deu origem a diversos mitos e explica quase todas as lendas de Quetzalcóatl.

Dentre os mitos envolvendo esse deus o mais importante é o da criação do homem. O mundo para os astecas, foi criado varias vezes. Isso porque a criação era seguida pela destruição por cataclismos. A última vez que o homem foi criado o deus Quetzalcóatl foi ao mundo dos mortos recolher os ossos dos homens, verteu sobre eles seu próprio sangue e deu vida novamente aos homens. Essa lenda explica a importância dos rituais de sacrifício humano e o papel fundamental que o sangue exerce nessa religião. Os homens, para manter-se vivos precisam manter vivos os deuses, alimentando-os com sangue humano. Apesar dessa lenda que justifica o sacrifício humano estar ligada diretamente à Quetzalcóatl consta que ele, durante seu governo sobre o mundo, proibiu essa prática.

Quetzalcóatl foi, sem dúvida, o mito mais difundido por toda a Meso-América. Com caráter multiforme, porém sempre benigno. Esse aspecto valente, bom, de herói integrador seria muito bem aproveitado pelos evangelistas espanhóis no momento de “garimpar” almas para a religião cristã. Do mito de Quetzalcóatl há varias versões, entretanto nenhuma delas sobreviveu à conquista espanhola de 1519 sob a forma escrita. Os pontos em comum na grande maioria das versões é o fato de que Quetzalcóatl, após criar os homens, desceu das efemérides divinas e encarnou como homem, veio para ensinar à humanidade todas as artes, a sabedoria e a bondade.

O homem Quetzalcóatl foi um rei tolteca muito justo, sacerdote, astrônomo, foi quem adaptou o calendário maia em algumas partes e estruturou o calendário tolteca, assimilado mais tarde pelos astecas. Seu reinado marca a assimilação do povo maia pelos toltecas. Teria morrido em 5 de abril de 1208, exilado em algumas versões, traído e morto em outras. Independente da versão de sua morte e das condições que esta ocorreu o certo é que ao deixar o trono tolteca Quetzalcóatl afirmou que retornaria. Assim ele se converteu no centro de uma cosmologia religiosa. Esta história mitológica chega, na forma de tradição oral, aos ouvidos dos conquistadores espanhóis que rapidamente vão interpretá-la e aproveitar-se dela.


Quetzalcoatl tatoo design. Excerpts from the Tattoo Encyclopedia: A Guide to Choosing Your Tattoo

by Terisa Green and Greg James


Um dos escritores que percebeu o caráter “messiânico” da lenda de Quetzalcóatl foi Bernardino de Sahagún. No primeiro livro de sua Historia general de las cosas de Nueva España ele tenta recuperar a figura de Quetzalcóatl assimilando-a a Jesus Cristo. A intenção de Sahagún foi explicar a outros missionários a concepção de mundo dos mexicas, para com isso poder afirmar o cristianismo e melhor evangelizar. Notória é a visão tendenciosa que Sahagún passa em sua obra, nesta assimilação da figura do deus tolteca existe um interesse ideológico deformador. Por outro lado, a aristocracia mexica pós-conquista também possuía o peremptório desejo de reabilitar Quetzalcóatl, como uma figura quase cristã, pois isso legitimava seu poder e a conseqüente manutenção deste.

Quetzalcoatl, desenho de Adam Fu Reed.


Sahagún não define o retorno de Quetzalcóatl como sendo uma profecia da chegada dos espanhóis, embora perpasse a idéia de que os espanhóis são companheiros do deus. Outros escritores vão além, é o exemplo de Las Casas que sugere que os cristãos são filhos e irmãos de Quetzalcóatl. Desta maneira tentou-se converter Quetzalcóatl em um apóstolo de Cristo para poder cristianizar mais facilmente. Como Paz salienta: a mentalidade européia viu-se confrontada pelas impenetráveis civilizações da América.

A partir de meados do século XVI foram feitas diversas tentativas para suprimir as diferenças entre mexicas e espanhóis. Alguns alegavam serem os antigos mexicanos descendentes de uma tribo perdida de Israel; outros os consideravam como sendo de origem fenícia ou cartaginesa; outros ainda estabeleciam relações entre certos ritos dos astecas semelhantes a cerimônias cristãs, imaginando que aqueles fossem um eco distorcido da pregação do evangelista São Tomé. Essa corrente defendia que o evangelista teria vindo para as Américas e adotado o nome de Quetzalcóatl [3].

A crença em uma evangelização realizada muito antes da chagada dos espanhóis no Novo Mundo, realizada por São Tomé, resulta da leitura de São Paulo que afirma que a palavra de Cristo foi levada até os confins da terra, pelos apóstolos. Atualmente sabemos da existência de correntes marítimas ligando a costa oeste da África às laterais leste da América, todavia o pensamento quinhentista desconhecia esse fato. Lafaye informa que a descoberta de textos bíblicos e de fatos novos permeados de crenças antigas seriam argumento suficiente para corroborar a idéia de que Quetzalcóatl foi o apóstolo São Tomé.

"Aztec and Maya Myths." Karl Taube. University of Texas Press. ©1993


Mesmo entre os índios houve confusão a respeito da similitude dos espanhóis com o mito do regresso de Quetzalcóatl. A lenda rezava que Quetzalcóatl regressaria de seu exílio e novamente instauraria a idade de ouro. Esta profecia possuía um caráter cronológico. O deus deveria retornar em um ano 1 acatl, coincidentemente os espanhóis aportaram no México em um ano 1 acatl, o ano de 1519. O próprio Hernán Cortéz foi confundido com o deus. Porém essa crença não logrou. O rei Montezuma mandou levar até Cortés os ornamentos sagrados de Quetzalcóatl com a finalidade de verificar a identidade do deus, o que não ocorreu.

Mesmo que ainda restassem dúvidas a respeito da identificação de Cortés com o deus, o massacre efetivado pelas tropas espanholas em Cholula, cidade sagrada de Quetzalcóatl, bastaria para dissipar quaisquer equívocos. Lafaye demonstra que a profecia de Quetzalcóatl “aparece como un caso particular, para México, de una crencia común a la mayoría de las poblaciones indígenas, según la cual unos superhombres vendrían del este para dominarlos” [4] é certo que os espanhóis foram posteriormente considerados filhos do Sol, companheiros de Quetzalcóatl, este foi um estratagema político para facilitar a penetração do continente, mas serviu também como fonte de inspiração para os missionários criarem uma brecha para a evangelização.

Quetzalcoatl, escultura asteca.


Se São Tomé esteve na Meso-América pregando a “boa-nova”, ou se algum outro europeu esteve em terras mexicas em alguma era pré-colombiana, são conjecturas que até o momento não se podem provar. O fato é que os povos do México possuíam uma religião bastante complexa e dentre seu panteão destaca-se a importante figura de Quetzalcóatl. Esse deus foi criador da humanidade, professor dos homens, foi deus e rei encarnado. Sua morte causou tristeza em seu povo, a ponto de se construir uma profecia de seu retorno. Como todo herói “messiânico”, indícios de sua volta não faltaram. Como se não bastasse a superstição do povo, os invasores chegam sob a auspiciosa data profética.

Os evangelizadores espanhóis tinham consciência de seu papel de divulgadores da “verdade” cristã e lançaram mão dos meios que lhes foram apresentados. Legitimar sua presença em solo mexicano através de um mito cosmogônico foi um meio para alcançar a mentalidade desse povo a ser conquistado e catequizado.


[1] SOUSTELLE, Jacques. A Civilização Asteca. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1987, p.68.

[2] CASO, Alfonso. El pueblo del Sol. México: Fondo de Cultura Economica, 1962, p.14.

[3] Cf. PAZ, Octavio. Essays on Mexican Art. New York: Harcourt Brace & Company, 1993.

[4] LAFAYE, Jacques. Quetzalcoatl y Guadalupe : la formacion de la conciencia nacional en Mexico. Mexico: Fondo de Cultura Economica, 1985, p.227.


BIBLIOGRAFIA CONSULTADA


CASO, Alfonso. El pueblo del Sol. México: Fondo de Cultura Economica, 1962.

COLLIER, John. Los Indios de Las Americas. México: Fondo de Cultura Economica, 1960.

LAFAYE, Jacques. Quetzalcoatl y Guadalupe : la formacion de la conciencia nacional en Mexico. Mexico: Fondo de Cultura Economica, 1985.

LEHMANN, Henri. Las Culturas Precolombinas. Buenos Aires: EUDEBA, 1960.

PAZ, Octavio. Essays on Mexican Art. New York: Harcourt Brace & Company, 1993.

SAHAGÚN, Bernardino de. Historia general de las cosas de Nueva España. 4. ed. México: Porrúa, 1979.

SOUSTELLE, Jacques. A Civilização Asteca. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1987.

SOUSTELLE, Jacques. La vida cotidiana de los aztecas en vísperas de la conquista. México: Fondo de Cultura Economica, 1956.


06 abril 2010

As Guerras Médicas e a participação da cidade de Argos


Introdução

As Guerras Greco-Pérsicas foram uma busca pelo poder no Mediterrâneo Oriental, a busca de uma consolidação, de uma hegemonia de dois blocos antagônicos culturalmente: o grego e o persa. Esses dois grupos seriam a priori irreconciliáveis justamente por possuírem visões de mundo diametralmente opostas. Os gregos valorizavam o indivíduo e sua liberdade e os persas eram súditos de um monarca divinizado.

Porém percebemos que apesar de estas duas culturas serem divergentes entre si, os persas encontraram aliados em terras gregas. Em sua marcha de conquista sobre a Grécia, os persas conseguiram a rendição da terra e da água, e muitas cidades se firmaram como terreno neutro, não apoiando nem ao invasor bárbaro nem aos defensores da Hélade.

Esse mapa é fantástico. Gentilmente cedido pelo prf. Jomo. http://professorjomo.blogspot.com.br/2012_02_01_archive.html

Dentre essas cidades encontramos uma em especial que se uniu à causa persa contra seus compatriotas, a cidade de Argos.

Heródoto nos narra que ao se preparar para a invasão da Grécia o rei dos persas, Xerxes, mandou um arauto com uma mensagem amistosa, alegando serem os persas descendentes dos argivos e que em respeito ao culto a um antepassado comum eles não deveriam guerrear entre si. A cidade de Argos aceita essa aliança e em resposta aos enviados pelos helenos, que foram recrutar seu apoio, alegam a antipatia pela idéia de serem comandados pelos lacedemônios.

Portanto, Argos se alia aos persas devido a um precedente religioso, aí reside nossa hipótese, o quão forte é a religião a ponto de influenciar significativamente em uma decisão política?

Não vamos negar que Argos nesse momento era submetida à Esparta e que há sem dúvida o interesse de livrarem-se do jugo lacedemônios, porém o argumento feito por Xerxes foi de extrema importância.

Argos se apoia na religião ao dar ouvidos à proposta persa e ainda se apoia em uma preleção oracular contra o seu apoio aos helenos.

Portanto a religião na Grécia Clássica é considerada de crucial importância para a obtenção dos objetivos deste trabalho. Analisaremos a religião grega, sua influência na formação da mentalidade do homem grego nesse período e seu caráter, procurando os pontos que nos permitam identificar a nossa hipótese supracitada.


Heródoto, nosso autor


Heródoto, baixo-relevo, Louvre

Por volta de 484 a.C. na cidade jônica de Halicarnasso, Heródoto nasceu. Sua cidade situava-se na costa da Ásia Menor e neste período era dependente da província de Caria, integrante do Império Persa. Nesse momento as relações entre a Pérsia e as cidades gregas estavam em conflito. Os persas estavam se preparando para uma expedição militar à Grécia que levaria a última Guerra Greco-Pérsica que ocorreu em 480 a.C.
As Guerras Greco-Pérsicas, ou Médicas, tiveram seu fim no ano de 479 a.C. Na batalha de Platéia que foi vencida pelos gregos comandados pelo espartano Pausânias. O encerramento dos conflitos entre gregos e persas marcou a história desta civilização. Os gregos tinham consciência de que o resultado dos conflitos seria de extrema importância não só para o mundo grego e que se a Pérsia fosse vitoriosa isso poria fim na independência das poleis gregas e , talvez da própria civilização helênica.
Por isso que muitos historiadores consideram as Guerras Médicas como um marco na transição da civilização grega arcaica para a clássica propriamente dita. Após as Guerras Médicas a Grécia se encontra dividida, suas inúmeras cidades estavam extremamente orgulhosas de sua autonomia e de sua independência política, orgulho esse que seria mais tarde o fermento da guerra fratricida conhecida como a Guerra do Peloponeso.
Foi inserido nesse espírito de liberdade e autonomia que Heródoto cresceu, sendo membro de uma influente família de Halicarnasso, desde cedo se envolve na vida pública. Sua família se opunha ao tirano Lígdamis e seu tio Paníasis, como chefe da oposição, lidera uma sublevação fracassada. Isso vai custar à Heródoto um exílio, porém isso é um fato que trouxe benefícios, pois é aí que Heródoto inicia suas viagens que darão origem a sua obra e o levarão ao Egito, ao norte da África, à Itália, ao Mar Negro, a Ásia Menor e ao Oriente Médio.
Entretanto de todas as viagens de Heródoto a que teve maior repercussão foi a que o levou a Atenas. A vida cultural desta polis no século V a.C. Era de uma efervescência inédita na história do mundo antigo. Todas as artes tiveram florescimento e a filosofia estava sofrendo mudanças que marcariam toda história da humanidade. Grandes artistas e intelectuais de todas as partes do mundo grego iam para Atenas em busca de reconhecimento.
Mas devemos lembrar que esse crescimento não ocorreu de forma homogênea e boa parte do progresso cultural concentrava-se na cidade de Atenas. Foi lá que Heródoto alcançou notoriedade através da leitura pública de sua obra. Além disso foi em Atenas que Heródoto conviveu com grandes políticos, militares importantes, artistas e filósofos, tendo contato inclusive com os sofistas. Porém esse contato não seria o suficiente para alterar significativamente o conteúdo da “História” pois no momento que Heródoto entrou em contato com a filosofia sofista sua obra estava quase que totalmente escrita.
Todavia, esse apogeu cultural possui um caráter passageiro por que já no início do século IV a.C. a civilização grega entra num período inerte. As destruidoras guerras do século V continua sua marcha. As cidades enfraquecidas pelos constantes conflitos dão margem para a conquista macedônia que ocorreu em 338 a.C. Porém Heródoto não presencia esses fatos, ele falece em 425 a.C. na polis de Turói, cidade do Golfo de Taranto, a qual ele ajudou a fundar e se tornou cidadão.

Contextualização espaço temporal

Nossa história tem como personagens o rei persa Xerxes e a cidade de Argos:


· Xerxes: seu nome do antigo persa Khshayarsha, na Bíblia Ahasuerus. Filho e sucessor de Dario I. Ao suceder seu pai precisou enfrentar sublevações em algumas cidades persas, em domínios no Egito e principalmente nas cidades jônicas. Estas cidades receberam auxílio da Hélade e ao triunfar sobre essas revoltas Xerxes preparou-se para a vindita contra os gregos.
Para tal buscou apoio nas disputas internas da própria Grécia. Entrou com pedido de terra e água a algumas poleis e enviou arautos propondo alianças a outras como no caso de Argos.


Xerxes, baixo relevo, Irã
· Argos: cidade que está localizada a nordeste da península do Peloponeso, a 4,38 km dentro do Golfo de Argos. Já foi a principal cidade da região a qual era chamada de Argolis. O nome Argolis foi restrito à planície ao redor da cidade de Argos. Após as disputas pela hegemonia da região, Argos foi submetida à Esparta. Na época da invasão persa à Grécia, Argos viu uma boa oportunidade de se livrar do jugo de Esparta, voltando a ter a hegemonia do Peloponeso.
Atlas HIstórico


Análise da Fonte

Da “História” de Heródoto o trecho a que nos propomos a estudar é o parágrafo 150 do livro VII:

São essas as palavras dos próprios argivos a esse respeito, mas há outra versão difundida entre os helenos. Segundo essa versão Xerxes, antes de iniciar a expedição contra os helenos, teria enviado um arauto a Argos; conta-se que chegando lá ele teria dito o seguinte: “O rei Xerxes vos diz essas palavras, argivos: “Pensamos que descendemos de Perses, filho de Perseus filho de Danae, e de Andromeda filha de Cefeus; sendo assim, descenderíamos de vós. Não seria portanto razoável nem que nós entrássemos em guerra contra nossos antepassados, nem que vós, levando ajuda a outrem, passásseis a ser nossos inimigos; o razoável é que vós permaneçais quietos em vossas casas, pois se tudo se passar de acordo com meus desejos não haverá povo mais estimado por mim do que vós.” Segundo se conta, depois de ouvir essas palavras os argivos ficaram muito impressionados; naquele momento eles não ofereceram qualquer assistência, nem apresentaram reivindicação alguma por seu turno; mas depois, quando os helenos tentaram obter o seu apoio, sabendo perfeitamente que os lacedemônios não concordariam com a partilha do comando eles pleitearam a sua participação no mesmo, com o objetivo de ter um pretexto para ficar quietos. (HERÓDOTO p.381)

Perseu e Andrômeda, óleo de Paolo Veronese
Além do argumento utilizado por Xerxes, baseando-se no culto ao antepassado comum, Heródoto nos dá uma outra versão para a aliança de Argos com o persas, uma preleção oracular que avisava os argivos contra os perigos de se aliarem aos helenos. O que fica evidente no parágrafo 148:
...Passou-se o seguinte entre eles segundo dizem os próprios argivos: estes teriam obtido informações desde o princípio quanto aos planos dos bárbaros contra a Hélade; cientes disso e no pressuposto de que os helenos tentariam coligar-se contra o persa, eles teriam enviado teoros a Delfos para perguntar ao deus qual seria a melhor atitude a tomar. Com efeito, pouco antes os argivos tinham perdido seis mil homens lutando contra os lacedemônios e seu comandante Cleomenes filho de Anaxandrides, e por isso estavam mandando os teoros. Em resposta a sua pergunta a Pítia lhes teria dado o seguinte oráculo:

Povo odiado por todos os seus vizinhos,
mas caro aos deuses imortais, mantém-te em guarda
lá dentro das muralhas, empunhando a lança
e cuida da cabeça; ela te salvará.”
Esse oráculo já lhes tinha sido dado pela Pítia anteriormente ...

(HERÓDOTO p.380-381)

Portanto seja a verdade dos fatos uma aliança proposta pelo rei persa ou um aviso oracular, a decisão da cidade de Argos foi a de se aliar a Xerxes, decisão política, sem dúvida, porém respaldada pela religião.

O mito de Perseu

A mitologia nos conta que um antigo rei da cidade de Argos, Acrisius prendeu sua filha Danae numa masmorra com receio que ela engravidasse, pois segundo um oráculo seu neto vindouro seria o autor de sua morte.

Zeus, o deus maior, compadeceu-se da moça e apaixonou-se por ela, caindo em forma de chuva por entre as grades da masmorra engravidou-a. desta união nasceu Perseu. Enfurecido o rei Acrisius aprisiona mãe e filho em um baú e lança-os ao mar. Dias depois aportam numa ilha distante e são libertos e acolhidos pelos reis locais, Dictys e Polidectes, que eram irmãos. Alguns anos mais tarde, a pretexto de ver-se livre de Perseus para assim não haver objeção ao seu casamento com Danae, Polidectes propõe um desafio a Perseus: trazer a cabeça da gorgone Medusa.


Perseu com a cabeça da Medusa, cidade de Firenze, Itália.

Perseus teve sucesso em sua investida tanto que voltou casado com Andromeda, salva por ele de um sacrifício ao deus do mar, Possêidon. Desta união nasceu Perses que iria dar origem ao povo persa.

Análise Bibliográfica

Quando falamos nas crenças gregos existe um grande risco de confundirmos a religião e a mitologia. A religião para os gregos da Antigüidade está na manutenção dos seus objetos de fé, seus ritos e cerimônia sacralizadas. A mitologia faz parte desta religião mas de maneira secundária, segundo Robert o mito surge freqüentemente mas sempre como um subterfúgio que explica o ritual e o torna sagrado. “A religião não está no que se conta, mas no que se faz.”(Robert p.6) ou seja a verdadeira religião grega está em seus cultos, ritos e cerimônias e não nas suas lendas.


Então qual a importância do mito de Perseu para os argivos do século V a.C.? E qual seria a relação entre esses e os persas?

O herói Perseu, neto de rei de Argos e seu filho Perses deu origem ao povo persa, portanto o rei Acrisius é um antepassado comum tanto para os argivos como para os persas. Essa lenda é considerada como uma realidade, como algo que realmente aconteceu, sendo assim uma realidade sagrada.

O mito conta uma história sagrada, quer dizer, um acontecimento primordial que teve lugar no começo de tempo, ab initio. Mas contar uma história sagrada equivale a revelar um mistério, pois os personagens do mito não são seres humanos: são deuses ou heróis civilizadores. Por esta razão suas gesta constituem mistérios: o homem não poderia conhecê-los se não lhes fossem revelados. O mito é pois a história do que se passou in illo tempore, a narração daquilo que os deuses ou seres divinos fizeram no começo do tempo. “Dizer” um mito é proclamar o que se passou ab origine. Uma vez “dito” quer dizer, revelado, o mito torna-se verdade apodíctica: funda a verdade absoluta. (Eliade p.84)
Coulanges ainda nos acrescenta que entre os antigos havia a crença do antepassado como um ser gerador que fornecia o mistério da criação. “O gerador surgia-lhes como ente divino e por isso o adoravam no seu antepassado.” (p.40)
Esse sentimento era extremamente forte e surgiu como base para a religião. Lembramos também que o povo grego possui em sua formação tribos indo-européias fica então simples destacar a importância deste culto aos antepassados, culto que tem sua origem no seio familiar e que alastrou até alcançar um caráter de culto citadino, oficial da polis
Portanto a religião era o que permeava a vida do homem antigo. Todos os seus atos na vida pública ou privada, era determinado por suas crenças. O Estado também era submetido a religião, tanto que era difícil distinguir um do outro e nunca se ouviu falar de conflitos entre ambos. Ocorria exatamente o contrário, temos exemplos de governantes apoiando seus cargos políticos sustentados pela religiosidade do povo.

Temos aqui o claro exemplo dos oráculos que intercediam favorável ou desfavoravelmente sobre alguma lei ou argumento político. Intervinha na constituição de novas colônias, no estabelecimento de pactos políticos e da alianças econômicas. A crença no oráculos era tão forte que eles eram aceitos como verdades absolutas. Pensadores modernos nos alertam para a sua tendenciosidade, colocando as manifestações oraculares como passíveis de serem compradas por aqueles que tivessem interesse em uma preleção favorável. Não vamos aqui discutir a veracidade dos oráculos mas vamos salientar que os governantes se utilizaram desta artifício para fazer valer suas decisões. A opinião de Robert corrobora nossa idéia quanto a isso e ainda acrescenta que todo homem de Estado se apoiava as traduções das Pítias para sacralizar sua política.

Pitonisa, cena do filme 300, de Zack Snyder (2007)

Além dos oráculos havia uma série de ritos, cerimônias, festas de conotação religiosa, enfim uma série de atividades sacralizadas que constituíam a religião em si. Esta religião não propunha ao homem uma reflexão ou ainda interrogações sobre os seus deuses. Ao contrário, sujeitava-o a um incrível número de minuciosas cerimonias e ritos, práticas preestabelecidas pelos antepassados de seus antepassados e que eram obrigatórias.

“A religião que exercia uma tão grande influência na vida da interior da cidade, intervinha com igual autoridade em todas as relações que as cidades mantinham entre si. É quanto podemos verificar ao estudarmos como os homens destes antigos tempos faziam a guerra entre si, concluíam a paz ou firmavam alianças.” (Coulanges p.254)

A religião presidia tanto a guerra quanto a paz, permeando as relações internacionais, marcadas por cerimônias sagradas e invocações dos deuses. Em caso de guerra, uma decretação se fazia mediante o pronunciamento pelo sacerdote, de certa forma sacramental.

Conclusão

A sociedade grega do século V a.C. possuía enorme influência religiosa, tanto em seu cotidiano como em suas instituições. Nossa hipótese se baseou na força de religião para o homem grego, o quão forte seria a religião a ponto de interferir em uma decisão política.

Partimos da premissa de que o cunho religioso estava tão incutido na mentalidade grega que seu espectro é percebido em todas as áreas de atuação humana. Estava presente na arte, na filosofia, na literatura, nos jogos, nos intercâmbios mercantis e na vida política.

Podemos concluir , então, que embora a cidade de Argos pudesse ter outros motivos para se aliar aos persas foi realmente o argumento religioso que embasou sua decisão final.

Referência Bibliográficas

Fonte:
1. HERÓDOTO. História. Brasília: Universidade de Brasília, 1988.

Bibliografia Consultada:1. BRANDÃO, Junito de Souza. Mitologia Grega.Vol.3. Petrópolis: Vozes, 1998.
2. COULANGES, Fustel de. A Cidade Antiga. Porto: Imprensa Portuguesa, 1971.
3. ELIADE, Mircea. O Sagrado e o Profano. A essência das religiões. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
4. GASSER-COSE, Françoise. A Grécia do Partenon. Rio de Janeiro: Ferni, 1978.
5. GLOTZ, Gustave. A Cidade Grega. São Paulo: Difusão Editorial, 1980.
6. ROBERT, Fernand. A Religião Grega. Coleção Universidade Hoje. São Paulo: Martins Fontes, 1981.
7. SCHWAB, Gustav. Dioses y Heroes. Mitos u Épica de la Antigua Grecia. Trad.esp. URRIZA, José Goñi. Buenos Aires: Santiago Rueda, 1949.

03 março 2010

Respondendo as perguntas sobre a Batalha das Termópilas

Alguns me perguntaram se podemos levar a sério a História da Batalha das Termópilas tendo em consideração o filme 300. Minha resposta é "claro que não!" 
O filme é bom, divertido, com cenas fantásticas, mas é claro que ele é apenas uma releitura de um fato histórico. Na verdade, ele é uma releitura de outra releitura. O filme foi inspirado nos quadrinhos de Frank Miller. Portanto, é claro que está cheio de exageros e "licenças poéticas".

A HQ 300 de Esparta é muito bem escrita, lindamente desenhada e - dentro das devidas proporções - bastante fiel à História. Mas, devemos lembrar que, por ser uma HQ, possui todo o apelo dramático característico. 

Óbvio que o imperador persa, Xerxes, não era uma figura sobre-humana, muito menos usava piercings por todo o corpo! Apesar de os persas serem uma teocracia, ou seja, o imperador era considerado uma divindade.

Outra ressalva, os persas não conheciam rinocerontes, ou se os conhecessem não os utilizavam em batalha.

A utilização de pólvora que forneceu ao filme e aos quadrinhos cenas de fantásticas explosões, também não é historicamente aceitável ... embora tenha ficado divertido no filme.
Enfim, tanto o filme quanto a HQ possuem vários exageros, mas na sua essência, podem sim servir como um modo lúdico de aprender um pouco mais sobre os costumes espartanos e sobre a Batalha das Termópilas.

Ah...em tempo: sim, os espartanos jogavam no abismo recém nascidos defeituosos; eles treinavam desde cedo para serem os melhores soldados; eles tinham um grande orgulho de serem descendentes do deus da guerra - Ares; e claro eles consideravam os atenienses como um bando de filósofos efeminados!

Ainda sobre a HQ de Frank Miller, posto abaixo o texto de Sergio Codespoti e Marcelo Naranjo, sobre esse assunto:

"Os 300 de Esparta conta a história do Rei Leônidas e a batalha das Termópilas, em 480 a.C., quando seu exército de trezentos espartanos desafiou os persas, que possuíam o maior exército já montado até então.Belamente roteirizada e ilustrada pelo mestre das HQs modernas, Frank Miller, a obra denota uma grande pesquisa, aliada às devidas adaptações e "licenças poéticas" necessárias para contar uma boa história, na mídia dos quadrinhos.
Xerxes - HQ e Filme


As cenas de combate presentes são um capítulo à parte. Miller abusa de cortes, texturas e silhuetas. O seu trabalho sempre foi muito elogiado quanto ao design arrojado de suas páginas e a força de sua composição. Mas é o conjunto da página que apraz aos olhos, e não somente o desenho em si. É um misto de elegância e audácia da distribuição dos quadros e seqüências.Em 300, a maturidade de Miller está evidente. Da sua escolha de fazer da página dupla a sua prancha de desenho, transformando a leitura tradicionalmente vertical em amplas horizontais, ao uso criterioso das silhuetas chapadas em meio ao colorido maravilhoso de sua esposa, Lynn Varley.

Silhueta chapada sobre fundo colorido, belo trabalho de Lynn Varley e Frank Miller

Lynn, que o acompanha como colorista desde os idos de Ronin, pinta de maneira tão dramática quanto as cenas executadas por seu marido. É um colírio ver suas pinceladas depois de anos seguidos de coloridos pasteurizados por computador.Mas o mérito da obra não está apenas na arte. A adaptação do texto, que seria insípido para a grande maioria dos leitores, é agradável, tem ritmo, com personagens sólidos e bem construídos. Vale até dizer, que o valor maior está no fato de que Miller instila em seus leitores a curiosidade de conhecer melhor este momento histórico, de buscar nas enciclopédias a verdade histórica dos 300 de Esparta.

Caso você não esteja com vontade de consultar uma enciclopédia, ou mesmo não tenha uma, embarque conosco nos próximos parágrafos. Vamos voltar ao tempo dos gregos, conhecer o que cercou a batalha descrita por Miller, e o que houve além dela.

Tudo teve inicio com Dario I, soberano do império persa e um grande conquistador. Ele foi o responsável pela primeira tentativa de domínio da Grécia, devido a uma disputa pela hegemonia comercial no Mediterrâneo. No entanto, foi derrotado na chamada Batalha de Maratona, por uma tropa de soldados de Atenas. Dario e os seus retornaram, humilhados. Anos depois, antes de falecer, Dario determinou que o herdeiro de seu trono e novo soberano seria seu filho caçula, Khchayarcha, conhecido pelos gregos como Xerxes. Ele assumiu sua herança com convicção, determinado primeiro a resolver graves problemas, como uma grande revolta egípcia. Em dois anos, terminou essa tarefa. Depois, com manifestações semelhantes ocorrendo na Babilônia, determinou uma intervenção e arrasa a cidade.


Com tudo isto resolvido, finalmente dedicou-se ao seu mais audacioso plano: conquistar a Grécia. Xerxes tinha como estratégia atacar a Grécia Central com seus homens, enquanto, por uma rota traçada, uma gigantesca nau, com mais de 200 navios, abasteceria e daria apoio as suas forças em terra firme.No ano de 481 a.C, o mundo teve a oportunidade de assistir à reunião do maior exército já organizado em todos os tempos, até então. Conforme Heródoto, que narrou toda a trajetória de Xerxes, os números excediam a casa de dois milhões e seiscentos mil homens. Porém, historiadores modernos afirmam que seria impossível reunir e abastecer tal quantidade de pessoas, e que, na realidade, seriam em torno de 200 mil até 300 mil homens. Mesmo assim, um número prodigioso.



Vale citar que Miller utiliza o texto de Heródoto em vários diálogos que acontecem durante a história, como quando a esposa de Leônidas pede que o marido volte "com o escudo, ou sob o escudo". Ou seja, volte vitorioso, ou morto. Outro momento, no diálogo entre Leônidas e Xerxes, quando o espartano afirma: "Você tem muitos homens, mas poucos soldados".Voltando à tropa, dados históricos dão conta que essa máquina de guerra era formada por pessoas de 46 povos diferentes, entre persas, medos, assírios, árias, partas, indianos, etíopes, árabes e outros.Quando entravam em marcha, nada parecia poder detê-los. Em todo o caminho, as cidades curvavam-se ante a supremacia do rei persa. Trácia, Macedônia, Tessália, todas se submeteram a Xerxes. Até o exato momento em que a comitiva alcançou o desfiladeiro das Termópilas, onde uma inesperada e desagradável surpresa os aguardava.



Antes de continuar a narrativa, vamos nos ater um pouco aos espartanos, para tentar entender as motivações de suas atitudes.Os espartanos lutaram durante muitos séculos para dominar a área do Peloponeso oriental. Quando conseguiram estabelecer-se e dominar por completo a região da Lacônia, tinham o militarismo enraizado em seus costumes e hábitos. Depois, através de campanhas militares, conquistaram a Argólida e a Messéia, tendo, então, sob seus braços quase todo o Peloponeso.A organização política deste povo funcionava da seguinte maneira:



Dois reis, representando importantes famílias diferentes, com poderes militares e religiosos; Acima destes, um conselho, com os mesmos dois reis e mais 28 nobres; Uma assembléia, que aprovava ou rejeitava as propostas do conselho; Uma equipe de cinco pessoas, chamada de Éforo, com poderes absolutos, presidindo o conselho, a assembléia, podendo controlar distribuição de propriedades, determinar o destino de recém-nascidos, depor ou eleger reis, enfim, eram o poder supremo.


A população era dividida em três classes:

  • Os esparciatas, que eram a camada dominante, e não excediam um vigésimo da população global. Somente estes tinham privilégios políticos; 
  • Os periecos, indivíduos que fizeram parte de povos que foram aliados dos espartanos ou que se juntaram a eles por vontade própria. Tinham permissão de exercer o comércio e a manufatura; 
  • Os hilotas, que eram os servos e escravos, provenientes dos povos dominados à força.
Para manter a supremacia da camada dominante sobre as outras, que eram muito maiores em termos numéricos, era fundamental o bom funcionamento do sistema militar espartano. Para tanto, todos tinham que fazer sua parte, em prol do coletivo.

Cena do filme 300

Logo que nasciam, as crianças já ficavam sob jugo do estado. Se tivessem qualquer tipo de doença ou deformidade, eram sumariamente assassinadas. Os saudáveis aprendiam a servir e a abdicar do individuo, em função do bem comum. Sofriam, eram castigados, passavam por diversas mazelas para fortalecerem seus corpos e espíritos, para aprender a serem determinados. Cada espartano devia ser um soldado perfeito, e sua maior glória era morrer em batalha. Voltar derrotado, jamais. A partir daí, podemos voltar nossa atenção para o encontro de Xerxes com os espartanos, e o motivo destes estarem nas Termópilas. 

A Grécia, tendo tomado conhecimento do exército inimigo, realizou uma reunião na cidade de Corinto, com representantes de todas regiões. Algumas cidades estavam pré-dispostas a se renderem, outras ficaram na neutralidade. Atenas, Egina, Eubéia e Esparta decidiram formar uma frente de resistência.A estratégia escolhida foi cobrir a Grécia Central. Para isso, uma única chance: preparar uma linha de resistência nas Termópilas. O estreito desfiladeiro, localizado entre uma montanha e o mar, era um ponto estratégico. Marcharam em direção a eles os espartanos, junto com alguns aliados. Ao mesmo tempo, uma esquadra grega, formada principalmente por atenienses, tinha a missão de apoiar as operações terrestres.
Capa da HQ - Frank Miller



Quando Xerxes tomou conhecimento de um exército preparado para bloquear sua passagem, enviou batedores para tomar melhor conhecimento da situação. Ao descobrir o número de soldados do inimigo, não levou a sério a iniciativa e acreditou tratar-se apenas de "jogo de cena". Não tinha idéia do quão estava enganado. Ele acampou com seu séqüito por cerca de quatro dias, provavelmente porque parte de sua esquadra marítima havia sido destruída por uma violenta tempestade. Outra possibilidade seria exatamente a de não acreditar na real intenção dos espartanos de guerrearem.No quinto dia, Xerxes ordenou o ataque. Começaram aí as surpresas: seus homens foram sucessivamente repelidos pelos bravos inimigos. Durante dois dias seguidos, divisão de tempo que podemos acompanhar nos quadrinhos, várias tentativas inúteis de subjugar os espartanos foram feitas, sem êxito. Nem mesmo os Imortais, a tropa de elite de Xerxes, obtiveram sucesso.Ao mesmo tempo, ocorreu um confronto no mar, entre as naus gregas e persas, já enfraquecidas devido a uma forte tempestade. A batalha não teve vencedor, mas ficou clara a superioridade dos gregos nas águas.

Os persas já não sabiam como atravessar a barreira dos espartanos. Foi então que um nativo, de nome Ephialtes, entregou uma passagem secreta que possibilitava cercar os inimigos. Aqui temos outra boa sacada de Frank Miller: ele coloca o traidor na figura de um corcunda, um espartano que teria escapado de ser morto ao nascer (como mandava a tradição), devido ao seu defeito congênito.

Ephialtes - Frank Miller


Querendo juntar-se aos seus e não podendo, por decisão de Leônidas, acabou traindo os conterrâneos.Continuando... Durante a noite, as posições foram ocupadas. Quando ficaram sabendo do ocorrido, os aliados dos espartanos decidiram partir. Mas estes, não. Fugir era intolerável, render-se, inadmissível. Antes morrer na glória da batalha, do que ser considerado covarde e desertor. Chegou, então, o terceiro dia.
Cena da HQ - Fank Miller

Com a mais plena noção da impossibilidade de uma vitória, Leônidas e seus homens partiram para o ataque. Fizeram vítimas numa quantidade muito superior ao seu número. O rei sabia que era sua hora, pois o oráculo determinou que um monarca morreria naquela batalha. Ele e os seus lutaram primeiro com lanças, depois com espadas e, por fim, com os próprios punhos, até o final. Deixaram a vida, entraram para a história e se tornaram uma lenda heróica. Xerxes ficou impressionado e teve sua confiança seriamente abalada pela determinação daqueles guerreiros. Sobre os oráculos de Delfos, existem duas versões: numa, Xerxes teve o apoio destes, que publicaram uma série de oráculos derrotistas e, por isso, quando invadiu a Grécia Central, ele poupou Delfos. A outra conta sobre um oráculo ter afirmado que a causa de Xerxes estaria perdida, caso este tocasse em Delfos, e isto fez com que deixasse o local intacto.

Persas encurralados no desfiladeiro - Frank Miller

Após abrir passagem pelas Termópilas, Xerxes permaneceu com seu intento. Com o caminho livre, invadiu a Grécia Central. Destruiu cidades rebeldes, poupou outras que o acolheram e, finalmente, invadiu Atenas. A maioria dos cidadãos havia fugido devido à decisão do governo de evacuar a cidade. Os poucos moradores que ficaram foram assassinados; e casas e templos foram pilhados.Mas chegou o momento decisivo da batalha, que ocorreu no mar. A frota de Xerxes estava ancorada na enseada de Falera. As naus gregas, em Salamina. Xerxes ordenou o ataque. Os persas tinham uma frota muito superior, mais que o dobro do que os inimigos dispunham.

Quando a batalha começou, os gregos conseguiram sair da baía de Salamina e adotaram formação de combate. Como o canal era estreito, os persas, que tinham suas naus carregadas de tropas, ficaram confusos e chegaram a trombar entre si. Os gregos atacaram com todas as suas forças, e conseguiram uma vitória fulminante.Xerxes assistiu a tudo, e tinha certeza que havia perdido uma batalha importante. Sem ter como abastecer seu exército, ordenou uma retirada. Contudo, não desistiu de seu intento. Deixou na Grécia uma armada com vários milhares de homens.
Mensageiro persa - Comparação entre o filme e HQ de Frak Miller
Essa armada, sob comando de Mardônio, voltou a invadir Atenas. Estes, cansados da guerra, ameaçaram uma aliança com os persas, caso Esparta não colaborasse para uma batalha decisiva. Os espartanos, então, enviaram seu exército, sob o comando de Pausânias, e novos confrontos aconteceram. Numa frente, os espartanos venceram os persas; enquanto os atenienses enfrentavam os beócios (aliados dos persas). Nova vitória dos gregos, obrigando a retirada final do inimigo. Também no mar, os invasores foram expulsos. Era o fim dos sonhos de conquista de Xerxes.
Cenas da batalha - Frank Miller

Como esta obra é uma adaptação, Miller tomou certas liberdades que poderiam soar como inverdades. (grifo nosso - blog Histórias) Caso um historiador decida por fazer uma análise mais arguta, poderá encontrar fatos um pouco distorcidos, talvez as vestimentas de alguns personagens não sejam exatamente aquelas. Quem sabe reclame de Miller ter "simplificado" um acontecimento histórico a uma batalha entre o que o autor considera sendo o "bem" (os espartanos) contra o "mal" (os persas). Mas, como não somos historiadores, ficamos com a única certeza de termos em mãos uma grande HQ.



Os 300 de Esparta foi lançado no Brasil pela Editora Abril, em cinco números, em 1999. Nos Estados Unidos, a Dark Horse, que publicou a mini-série original (com o título de 300), brindou posteriormente seus leitores com uma belíssima encadernação, em capa dura e formato grande.A obra merece, pois é um presente para quem aprecia uma boa aula de história. E, neste caso, de uma maneira muita mais divertida, através de um meio único e arrebatador que são os quadrinhos!"

Exército espartano - Frank Miller