18 fevereiro 2015

Anarquistas graças a Deus

Publicado em 1979 e transformado em minissérie da rede Globo em 1984, “Anarquistas, graças a Deus” é o livro de estréia de Zélia Gattai, esposa de Jorge Amado, e seu primeiro grande sucesso.

Exímia contadora de histórias, Zélia as transforma em instrumento privilegiado para o resgate da memória afetiva, sendo ao mesmo tempo Literatura e História Oral. O próprio Jorge Amado percebeu essa veia de documental da esposa, lhe apontou o caminho e mostrou que ela se alimentava de sua rica ascendência familiar. Surge assim uma série de três livros de memórias escritos por Zélia. – “Anarquistas graças a Deus”; “Um chapéu para a viagem”; e “Senhora dona do Baile”.
Família Gattai 
Em seus livros, a literatura se torna registro e testemunho da História individual e coletiva do período no qual ela viveu. Se Jorge Amado foi uma espécie de biógrafo involuntário do Brasil, Zélia Gattai se afirma como a grande narradora de nossa história sentimental.

Família Gattai, na minissérie Anarquistas graças a Deus 


Zélia era filha de imigrantes italianos – anarquistas, por parte do pai Ernesto; e católicos, da parte da mãe Angelina. Após contar sua história aos filhos, netos e amigos, Zélia resolveu abandonar a posição de coadjuvante no mundo literário e experimentar a própria voz para contar a saga de sua família. E é assim que ficamos conhecendo a aventura dos imigrantes italianos em busca da terra dos sonhos, o crescimento da capital paulista e a infância dessa menina para quem a vida, mesmo nos momentos mais adversos ou indecifráveis, nunca perdeu o encanto: A determinação de seu Ernesto e a paixão pelos automóveis; a convivência diária com os irmãos e dona Angelina; os sábios conselhos da babá Maria Negra; as idas ao cinema, ao circo e à escola; as viagens em grupo; o avanço da cidade e da política; os duros anos de greves; o avanço do Estado Novo; o exílio do Brasil – nestas crônicas familiares, vida e imaginação se embaralham, tendo como pano de fundo um Brasil que se moderniza sem, contudo, perder a magia. 

São livros de leitura fluida, gostosa e de fácil assimilação - quase nos dá a sensação de estarmos ouvindo uma tia ou avó contando uma história de sua infância. Para quem gostaria de saber mais sobre o Brasil nos primeiros anos do século XX, sobre a imigração italiana e sobre os anos da ditadura Vargas, recomendo. 

Deixo também uns links de vídeos interessantes sobre esse período histórico. O primeiro deles é a introdução da minissérie que traz uma rápida história da vinda dos imigrantes italianos para o Brasil, com fotos originais na época. E, o segundo, é um resumo do livro em forma de vídeo.