26 fevereiro 2020

Materialismo Histórico

O materialismo histórico é uma abordagem metodológica ao estudo da sociedade, da economia e da história que foi pela primeira vez elaborada por Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895), apesar de eles próprios nunca terem empregado essa expressão.

Essa talvez seja a corrente historiográfica mais mal entendida e a mais complexa para ser determinada.

Primeiramente, é necessário deixar de lado todo e qualquer pensamento pré estabelecido, ou pré conceito. Se você nunca leu os escritos do Marx e apenas ouviu falar dele por meio de outros. Peço que esqueça ideias passadas de "segunda mão". 

Não vou aqui falar do Marx, nem do Engels (para quem quiser saber mais, escrevi outra postagem sobre a história do Marx, no link: Uma breve história de Karl Marx). 

Não vou ficar abordando os conceitos de "socialismo", "ditadura do proletariado" ou de "mais valia". Porém, para entender o que é o materialismo histórico, é necessário entender o que Marx considerava como "luta de classes".

Sobre o método dialético, veja mais em: Dialética

De acordo com Marx e Engels, as mudanças que ocorrem na história de uma sociedade não são determinadas por ideias ou valores. Eles defendiam que essas mudanças ocorriam influenciadas pela vida material, ou melhor, pela situação econômica. Portanto, ao se alterar a forma de produção de uma sociedade, alterações importantes ocorrerão. 

Por exemplo, o Japão era um país feudal, até o século XIX. As terras ficavam nas mãos de grandes senhores feudais, os xoguns, que possuíam uma casta de nobres, arrendatários de terras desses xoguns, seus vassalos e braços armados, os samurais. Na Era Meji, o imperador decidiu industrializar o império, iniciando uma guerra contra os samurais, confiscando suas terras dos xoguns e acabando com o sistema feudal japonês. Segundo uma visão materialista, foi a mudança dos modo de produção, de agrícola para industrial, que modificou todas as estruturas do Japão. 

Claro que existe muito mais envolvido, entretanto, para o materialismo histórico, apenas o viés econômico deveria ser levado em conta para analisar todos os demais. Porque, segundo essa corrente, as respostas para os fenômenos sociais estão inseridas nos meios materiais dos sujeitos. 

Para Marx "o modo de produção da vida material condiciona o processo da vida social, política e espiritual em geral. Não é a consciência do homem que determina o seu ser, mas, pelo contrário, o seu ser social é que determina a sua consciência." (MARX, K. Para a crítica da economia política. Tradução de José Arthur Giannotti e Edgar Malagodi. São Paulo: Nova Cultural, 1987. Coleção “Os Pensadores”. p. 30).

Isso quer dizer que o modo de produção da vida material condiciona o processo da vida social, política, econômica e espiritual em geral. Diferentes situações materiais, formam diferentes sociedades, bem como diferentes situações de subsistência material, ou seja, diferentes acessos à sobrevivência, formam diferentes grupos sociais, gerando as classes sociais. Essa diferença seria, para Marx, vetor de conflitos entre grupos de indivíduos submetidos a realidades materiais diferentes: ricos x pobres; industriais x operários; burgueses x proletários; privilegiados x oprimidos; etc. 

Esse seria um processo contínuo e movido pela incessante "luta de classes", entendida como a força que empurraria a história adiante. Pois para o Materialismo Histórico, as classes sociais sempre estarão em conflito generalizado entre si, uma vez que o caráter positivo da realidade de uma sempre resultará em resultados negativos para as outras. 

Assim como os pequenos mercadores burgueses uniram-se e derrubaram a ordem estabelecida no período feudal, a luta de classes entre proletários e burgueses movimentaria novamente a roda da história em favor de um ou de outro. 

Dessa forma, para Marx, a história é o processo das ações humanas, mas os homens agem dentro dos condicionamentos herdados do seu passado: "os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como querem; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha, e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado”. (MARX, Karl. O Dezoito Brumário de Louis Bonaparte. São Paulo: Centauro, 2006, p.7).


MARX, Karl. Introdução à Contribuição para a Crítica da Economia Política - Prefácio. Edições Progresso: Lisboa - Moscou, 1982. 
MARX, Karl. O Dezoito Brumário de Louis Bonaparte. São Paulo: Centauro, 2006. 
MARX, K. Para a crítica da economia política. Tradução de José Arthur Giannotti e Edgar Malagodi. São Paulo: Nova Cultural, 1987. Coleção “Os Pensadores”.

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