19 fevereiro 2020

Tia Ciata, a mãe do samba

Hilária Batista de Almeida, chamada carinhosamente de Tia Ciata, nasceu no recôncavo baiano, na cidade de (Santo Amaro da Purificação, 1854 — Rio de Janeiro, 1924). 
Ela cedeu sua casa e sua vida para fortalecer e preservar as raízes africanas, sendo um exemplo de resistência, que manteve o samba vivo.
Tia Ciata morava na Praça Onze, no centro do Rio de Janeiro, local habitado por judeus, negros e imigrantes. Sua casa, chamada de "Pequena África", foi o ponto de encontro de capoeiras, candomblecistas, compositores, cantores e músicos. Os encontros eram repletos de conversas sobre solidariedade, preservação da cultura, política e religião, ao  sabor da culinária saborosa de Ciata e ao som das rodas de samba.  
Praça Onze, o carnaval brasileiro começou nesse local, onde os blocos carnavalescos se encontravam, lugar de lançamento das marchinhas de carnaval.

Foi em seu quintal que o compositor Donga compôs o primeiro samba gravado no Brasil, a música "Pelo Telefone" foi registrada em 27 de novembro de 1916, na Biblioteca Nacional.
A música foi censurada e precisou ter a letra alterada para poder ser gravada. 
Na versão original dizia: "O chefe da polícia, pelo telefone, manda avisar, que na carioca tinha uma roleta para se jogar". Essa é uma crítica bem-humorada, uma vez que a polícia combate o crime, o chefe da polícia não avisaria sobre um jogo de azar, que era proibido. 
Mas ao ser censurada, a música foi gravada da seguinte forma: "O chefe da folia, pelo telefone, manda avisar, que com alegria, não se questione, para se brincar", fazendo alusão às brincadeiras de carnaval, a folia. 

Se quiser ouvir a música, na versão censurada, na voz de Donga, clique no link ao lado: Pelo Telefone, versão censurada, com a voz de Donga
Já a versão original da letra, foi gravada por Martinho da Vila, se quiser ouvir, clique no link ao ladoPelo Telefone, com Martinho da Vila

Tia Ciata começou sua vida como cozinheira e tornou-se mãe de santo (sacerdotisa do Candomblé). Ela chegou ao Rio aos 22 anos de idade, onde vivia de vender comidas baianas pelas ruas da cidade.

Por ser mãe de santo, era sempre procurada para conselhos, benzimentos e curas. Chegou a curar a perna do presidente da República, Wenceslau Brás. Dessa forma, ela tornou-se um símbolo da resistência negra pós abolição. Ajudando a preservar o candomblé, quando a religião era proibida; auxiliando a manter a prática da capoeira, que também era proibida, fundando as bases do samba, que na época era visto como "coisa de vagabundo".
Atualmente, ela também é vista como um símbolo de luta feminina, símbolo do feminismo negro. No final de agosto de 2017, o coletivo Mulheres de Pedra lançou um documentário curta-metragem sobre seu protagonismo na cultura do País. 

Assista ao trailer, no link ao lado: Trailer do filme Tia Ciata

O marido de Tia Ciata, João Batista da Silva, morreu em 1910, época em que Tia Ciata já era considerada uma autoridade e uma estrela no meio do samba carioca, ela era respeitada e tinha popularidade, seu nome era mais famosos que qualquer personalidade negra da época. Todo o ano, durante o Carnaval, armava uma barraca na Praça Onze, onde eram lançadas as marchinhas, que ficariam famosas no Carnaval da cidade. Tia Ciata morreu em 1924, em data incerta, na cidade do Rio de Janeiro.


MOURA, Roberto. Tia Ciata e a Pequena África no Rio de Janeiro. FUNARTE, 1983
OLIVEIRA, Eduardo (org). Quem é quem na negritude brasileira. São Paulo, Congresso nacional, 1998.
SILVA, Lucia. Luzes e Sombras na cidade: no rastro do castelo e da Praça Onze. SP, PUC, 2002

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