17 novembro 2015

Terrorismo

"Diferenças ideológicas, religiosas e políticas sempre existiram. E muitas vezes acabaram em violência. Junte a isso intolerância e armas, muitas armas, e você terá uma ameaça explosiva. E fatal!"

Terrorismo
Fonte: www.pri.org

Aviso: Esse texto não é de minha autoria. Adaptei a partir do texto "Terrorismo, a ameaça final", de Isabelle Somma e Celso Miranda. Aventuras na História, setembro de 2004.


Resistência contra ocupações, conflitos religiosos e étnicos, luta contra a tirania, seja qual for o motivo, a utilização de meios violentos como forma de ameaça ou coerção não é novidade. “O terrorismo é provavelmente tão velho quanto os conflitos humanos”, diz Jonathan White, antropólogo americano autor de Terrorism: an Introduction (“Terrorismo: uma Introdução”, inédito no Brasil). Mas ele mudou, e muito. Ao longo dos séculos, não só os meios empregados, mas as motivações, as armas e a forma de escolher as vítimas se modificaram. A própria definição de terrorismo também não é mais a mesma.

Fonte: http://www.brasilescola.com/
historia/terrorismo.htm

O terrorismo se originou no século I d.C., mas foi no século XXI que as ações terroristas se acentuaram e o discurso antiterrorista virou assunto recorrente na mídia ocidental.

O que é terrorismo?
A definição mais simples, as vezes é a melhor.
Quando um grupo usa violência para impor sua vontade sobre outros atingindo pessoas inocentes e alvos simbólicos é terrorismo". Segundo Jonathan White, professor da Universidade Estadual de Grand Valley, nos EUA. 

Mas essa definição é muito ampla. 
Uma briga de gangues ou de torcidas seria terrorismo? 
E uma guerra? 

O historiador americano Bruce Hoffman, autor de Inside Terrorism (“Por Dentro do Terrorismo”, sem versão em português), acha que não. “O terrorismo está relacionado à política e ao poder”, diz Hoffman. Para ele, terrorismo é a violência – ou a ameaça da violência – usada e dirigida em busca e a serviço de um objetivo político.


Fonte: http://www.istoe.com.br/
reportagens/156713_UMA+DECADA+DE+MEDO

Destroços das Torres Gêmeas, Nova York, EUA. 
Atentado terrorista de 11 de setembro de 2001.
A tragédia culminou na morte de 2.753 pessoas de 70 nacionalidades


Se o conceito é milenar, o termo “terror” só ganhou o significado atual no final do século 18, durante a Revolução Francesa. Robespierre, um dos mais radicais líderes revolucionários, foi chamado de “terrorista” depois que ele condenou à guilhotina aqueles que considerava inimigos da revolução, entre eles o rei e a rainha da França, além de antigos camaradas revolucionários. O período de os dez meses do governo de Robespierre, ondo ocorreram prisões, expurgos e execuções foi denominado de “reino do terror”. 

Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=noadTYzXY6o
Execução do rei Luís XVI
Assassin’s Creed: Unity - Revolução Francesa
Trailer de Rob Zombie

Para White, isso mostra que, desde seu aparecimento, o conceito de “terror” está ligado à questão ideológica. Afinal, os reis também utilizavam métodos violentos contra seus opositores e nunca haviam sido chamados de terroristas. Ou seja, o terror é o que os outros fazem. É a violência com a qual a gente não concorda. Do ponto de vista do outro, no entanto, o terror é um mal justificável diante de um benefício maior e futuro.
Ou seja, para alguns um ato pode ser terrorismo, mas para quem praticou o ato, ele é um meio justificável para conseguir algo. 

Portanto, se o Estado é ilegítimo ou autoritário, justifica-se o terrorismo contra o Estado. Como na Rússia czarista, onde, em 1878, um grupo de estudantes e intelectuais fundou o Narodnaya Volya (“Vontade do Povo”), com o objetivo expresso de assassinar membros da família real e do governo. Em 1881, um integrante do grupo voou pelos ares junto com o czar Alexandre II.

O êxito da ação mostrou que eliminar um governante não era tão difícil e chamava a atenção para causas políticas e partidárias. Até a Primeira Guerra Mundial, houve uma febre de atentados. Foram assassinados o então presidente francês Sadi Carnot (1894), o rei italiano Umberto I (1900), o presidente dos Estados Unidos William MacKinley (1901), o rei George I da Grécia (1913) e o arquiduque Francisco Ferdinando da Áustria (1914). O assassinato de Ferdinando, herdeiro do trono, foi o estopim que levou o mundo à guerra, em 1914.


Fonte: http://codinomeinformante.blogspot.com.br
Noite dos Cristais' (Kristallnacht) 
Nos dias em torno de 9 de novembro de 1938, os nazistas cometeram o pior massacre de judeus da Alemanha desde a Idade Média - o episódio foi ignorado pelo mundo

Nos anos 30, a ascensão dos governos fascistas na Europa foi um divisor de águas na história do terrorismo. Na Espanha, Alemanha e Itália, os sindicatos foram fechados, partidos e organizações tidas como revolucionárias, perseguidos. Comunistas e anarquistas, identificados como fontes de agitações, foram presos, outros tantos, desterrados.  A aparente tranqüilidade desses dias (que fez com que os fascistas fossem vistos com simpatia – quando não elogiados – por franceses e britânicos) só durou até que se reorganizassem movimentos ainda mais radicais, que viam nas ações terroristas a única forma de manifestação possível.

Foi uma escalada de violência. Na Alemanha, grupos paramilitares espancaram e assassinaram membros de minorias, considerados inimigos de Hitler. Coisa muito parecida ocorreu na Itália de Mussolini.


A experiência dos grupos de comunistas e radicais em promover ações terroristas, no entanto, foram úteis durante a Segunda Guerra na Europa. Bombas caseiras e franco-atiradores tornaram-se expedientes comuns na guerra de guerrilha travada contra os invasores nazistas pela resistência francesa e pelos partisans italianos. Mas era a guerra. E guerra é (e sempre foi) guerra.

Fonte: http://www.flamesofwar.com
Partisans italianos explodindo um trilho.
Os partisans foram decisivos para a queda de Mussolini


Terminado o conflito, os governos autoritários (pelo menos os fascistas) se foram. Ficou claro, então, que os mesmos Estados que tanto pregaram a liberdade e independência durante a guerra conviviam numa boa com uma aberração antidemocrática: o colonialismo. O mundo do pós-guerra viu surgir ou crescer movimentos de libertação na Europa – casos da Irlanda, Chipre e Espanha –, na Palestina, Quênia e Argélia, entre outros. E agora, com a enorme oferta de armamento, qualquer grupelho era capaz de fazer um senhor estrago. Algumas dessas lutas tornaram-se guerrilhas, outras, guerras e revoluções. Umas conquistaram a independência, outras se estendem até hoje. 

No mundo dividido ao meio pela Guerra Fria, a nova onda de grupos terroristas tinha motivações ideológicas. “Contra as ditaduras e Estados autoritários na América Latina e na África, as ações terroristas eram comemoradas pela esquerda internacional”. Do outro lado [as ditaduras da América Latina], a violência não era menor. O governo do general Pinochet, no Chile, manteve durante anos uma equipe treinada em ataques terroristas que atuava, inclusive, além das fronteiras do país. Em 1976, essa turma explodiu o carro de Orlando Letelier, ex-ministro chileno, que estava exilado em Washington, nos Estados Unidos.


Fonte: http://news.nationalgeographic.com/news
Ataque do grupo Hezbollah, em Beirut, no Líbano. 13 de julho de 2006.

O final da turbulenta década de 1960 viu surgir a internacionalização do terrorismo. Segundo Bruce Hoffman, esse capítulo foi inaugurado pela Organização Para a Libertação da Palestina. A OLP, que luta pela criação de um Estado palestino, passou a agir em vários países e a apontar sua fúria para um novo alvo: a mídia. Operações cada vez mais espetaculares procuravam atrair a opinião pública internacional. Foi assim no seqüestro que acabou na morte de onze atletas israelenses durante a Olimpíada de Munique, em 1972.


Nas últimas décadas, foi o terrorismo religioso que entrou para a ordem do dia. Essa nova fase teve início com o primeiro atentado com homem-bomba, em 1983, promovido pelo Hezbollah, grupo xiita com base no sul do Líbano. “Os militantes da jihad (a guerra santa contra os inimigos da fé muçulmana) distorcem a mensagem do Islã e aterrorizam tanto muçulmanos como não-muçulmanos”. Além do terror islâmico, há ainda grupos como a Aum Shirinkyo, seita que espalhou gás sarin em uma estação de trens e matou 12 pessoas no Japão, em 1995. No mesmo ano, uns caipiras membros do grupo Patriotas Cristãos explodiram um prédio do governo americano em Oklahoma City, nos Estados Unidos, matando 168 pessoas, e um jovem estudante judeu assassinou o primeiro-ministro israelense Yitzhak Rabin, a quem acusava de ser tolerante demais com os terroristas muçulmanos.



Fonte: http://www.tofugu.com/2012
Ataque do grupo terrorista Aum Shirinkyo 
Metrô de Tókio, Japão, 20 de março de 1995.
5 mil hospitalizados e 13 mortos

Difícil de entender? 
Então ouça esta: os terroristas não se resumem aos fanáticos religiosos!
Ecoterroristas atacam barcos que caçam baleias e mulheres que usam casacos de pele. Radicais antiaborto nos Estados Unidos já fizeram 18 vítimas fatais, nos últimos dez anos, entre atentados a tiros contra médicos e explosões de clínicas especializadas, que agem absolutamente dentro da lei de seu país.

E a coisa ainda pode piorar. Segundo os especialistas, o terrorismo não vai acabar. 

“Ele acompanha a humanidade e a intolerância religiosa, ideológica ou política. E tende a ser cada vez mais letal. Assim como o terror se tornou ‘de massa’ quando os terroristas passaram a ter armas de destruição em massa, o terror usará armas biológicas, químicas e, por que não, nucleares. Até hoje, bastou que existissem os meios para que houvesse um maluco disposto a usá-los. Nada nos permite pensar que será diferente no futuro”, segundo professor Adam Roberts, do departamento de relações internacionais da Universidade de Oxford, na Inglaterra, em um artigo publicado em junho pela Social Science Research Review


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